O retorno de Mary Poppins

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on pocket

Mary Poppins, sucesso de Walt Disney em 1964, vem aí com nova roupagem, para lançamento no Natal de 2018. A produção de O Retorno de Mary Poppins está em andamento, cercada de mistério.

 

Eu bem sei que Hollywood de tempos para cá perdeu completamente a compostura e cometeu dois graves erros: reduzir a pó a qualidade de roteiros contendo super heróis e trazer de volta filmes clássicos que, pelo que conseguiram nas telas, não deveriam ser retocados por autores que não fizeram história com eles.

E é bem possível seja isso que Disney e companhia estão tentando evitar com o filme “O Retorno de Mary Poppins” (do original, “Mary Poppins Returns”) a lambança atual dos roteiros sem trama.

Também é possível que o estúdio esteja receoso da reação dos fãs, tanto assim que a produção está seguindo fora da América e debaixo do maior segredo. Até agora, por exemplo, não se sabe se alguma parte da consagrada trilha dos irmãos Sherman será reaproveitada no novo filme.

O que já é publicamente anunciado (e com fotos, veja abaixo) é a presença da atriz inglesa Emily Blunt no papel da personagem-título. Pelo menos nisso, aparentemente os produtores acertaram. Miss Blunt é uma mulher discreta no seu todo, mas com enorme carisma nas telas!

 

 

O novo filme está programado para ser lançado no Natal de 2018, presume-se em lançamento mundial, e assim o público vai ter que esperar. Fãs ficarão, creio eu, em um suspense interminável.

 

 

Note-se que o lançamento recente nos cinemas de “Walt Nos Bastidores de Mary Poppins” (“Saving Mr. Banks”) despertou enorme afluência aos cinemas, e na sessão que eu fui o público ao meu redor se emocionou ao ver cenas de Julie Andrews no filme original.

Porque “Mary Poppins” foi um projeto importante para Walt Disney

O filme original, lançado nos cinemas em cópia plana 1.66:1 (típica do estúdio naquela época) e com som mono (o IMDb relata que o som original da trilha era estéreo, mas eu duvido), de despretensioso não tinha nada. Disney poderia ter recorrido a filmagens mais sofisticadas, como o Todd-AO, por exemplo, mas preferiu se ater ao que o estúdio tinha amplo domínio em tecnologia, como a luz de sódio no background, método desenvolvido por Ub Iwerks e inserido com sucesso nas cenas de animação e em outras com efeitos especiais.

 

 

Além disso, e está provado em documentação deixada pelo estúdio, que Walt Disney lutou até o fim para que P. L. Travis, a escritora das novelas, permitisse que o filme fosse feito, e quando ela cedeu fez da vida do excelente roteirista Don DaGradi um verdadeiro inferno. A ponto do próprio DaGradi colocar no filme seus maneirismos e falas (gravadas em fita de rolo por exigência de Travis) e que surtiram notável efeito, como a reclamação da existência da palavra “supercalifragilicexpialidocious” por parte de Mr. Banks.

Disney sabia o que estava fazendo, e usou todos os recursos criados por seus técnicos e artistas para dar vida ao personagem. Um curta da época mostra Julie Andrews içada em um corda “voando” em direção à casa dos Banks, mas quem assiste o filme não consegue enxergar nada, tal a perfeição da mixagem fotográfica.

Walt Disney apostou em novos talentos, como Julie Andrews e Dick Van Dyke, ela do palco e ele da TV. Julie havia sido esnobada por Jack Warner ao declina-la para o papel de Eliza Doolittle na versão filmada de My Fair Lady, por achar que ela não tinha “nome” para as telas. E Julie Andrews esnobou Jack Warner de volta quando recebeu a estatueta de melhor atriz naquele ano!

Dick Van Dyke, um talento à parte

Quem assiste Mary Poppins não acredita que o ator Dick Van Dyke nunca tinha sido, até então, dançarino ou cantor. Críticos reclamaram o péssimo sotaque cockney perpetrado pelo ator, mas jamais poderiam falar mal das rotinas de dança mostradas no segmento “Step In Time”, montadas nos telhados das casas, aliás, uma combinação perfeita de fotogramas em compósito. Tanto que Disney inicialmente objetou a inclusão da sequência, mas se rendeu às evidências e toda ela durou mais do que foi inicialmente planejada.

Anos depois de Mary Poppins, os estúdios ingleses resolveram transformar em filme o livro de Ian Fleming (aquele mesmo que escreveu os 007) com o título “Chitty-Chitty-Bang-Bang: The Magical Car” (no Brasil, “O Calhambeque Mágico”). E para tal contrataram (importaram) Dick Van Dyke, os irmãos Sherman, os coreógrafos Marc Breaux e Dee Dee Wood, e ainda Irwin Kostal para orquestrar o filme. O resto do elenco e os técnicos são do estúdio Pinewood.

Em Mary Poppins se ouve a melodia “Feed The Birds”, neste filme “Hushabye Mountain”, para o mesmo efeito cênico, bem como “Step in Time” para a rotina de dança, que foi modificada para “Me Ol’ Bamboo”, ambas onde Van Dyke se destaca. No lugar de Julie Andrews aparece a contralto Sally Ann Howes.

O Calhambeque Mágico, ao contrário de Mary Poppins, foi rodado em Super Panavision 70 mm, e apresentado em Cinerama 70 no antigo Cine Roxy, Copacabana, Rio de Janeiro. Na sessão que eu fui, o cinema estava superlotado!

Dick Van Dyke está hoje com 92 anos e parece um menino dando entrevista. Ele participa em O Retorno de Mary Poppins, mas em um papel menor.

Ele faz parte de uma geração de filmes mais limpos, sem violência, sem cadáveres expostos na tela. Eu não trocaria a ingenuidade desses filmes a qualquer hora por qualquer dessas bombas que hoje gravitam nas salas de exibição.

Não sei se a turma do estúdio Disney pretende fazer um retorno deste ambiente em O Retorno de Mary Poppins, mas espero que o façam.

O cinema foi inventado para ser mágico, em sua essência e conteúdo. Walt Disney entendeu como ninguém este conceito. Das lanternas mágicas aos filmes de animação de Disney a diferença é nenhuma, exceto é claro, o movimento dos personagens!

Outrolado_

 

O super heroísmo que atrapalha o cinema americano

 

Cannes contra Netflix

 

Por que amamos os assaltantes de “A Casa de Papel”

 

Bhagwan, o guru do sexo

 

 

 

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on pocket

Mais lidas

0 resposta

  1. Excelente materia. Paulo, meu amigo, voce é, atualmente o maior pesquisador de cinema na atualidade. PARABENS. Precisamos nos reencontrar
    Bs

    1. Olha, Ivo, vindo de você, que é um grande conhecedor de cinema, é um baita elogio. Não sei se mereço, mas te agradeço de coração. Esforço eu sei que eu faço, pela afeição que eu tenho por filmes e, como você sabe, por projetores e cabines. Eu procuro compartilhar este afeto com quem me lê, na expectativa de que algo de útil possa chegar a alguém. E, sim, vamos nos ver, é só marcar que eu estou lá.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *