Educação inclusiva para a deficiência auditiva: Libras e brincadeiras

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Educação inclusiva para a deficiência auditiva: Libras e brincadeiras

A língua de sinais pode suprir a função de suporte para o pensamento e permitir que o surdo tenha um desenvolvimento equiparado ao de uma criança ouvinte — e as atividades lúdicas também são muito importantes para garantir a educação inclusiva. Libras e brincadeiras.

 

Texto de Thiago Jhulio Pinto, aluno da professora Geneci Vergara Marques Souza na Faculdade Fecaf, disciplina de Psicomotricidade.

 

Segundo o Censo IBGE de 2010, 9,7 milhões de brasileiros possuem alguma forma de deficiência auditiva, sendo 344,2 mil surdos. Em crianças e bebês o fator genético se aplica, assim como efeitos colaterais de remédios podem trazer problemas auditivos.

Gestantes que contraem toxoplasmose, gripe ou rubéola podem provocar lesões no ouvido das crianças; doenças como otite, caxumba, sarampo e a principal causa do Brasil, a meningite trazem o risco de surdez.

Mas graças ao avanço da medicina e tecnologia, está cada vez mais fácil de detectar a surdez da criança.

O teste da orelhinha se tornou obrigatório e gratuito no Brasil em 2010 e detecta problemas auditivos nos bebês ainda na maternidade.

Isto é fundamental porque é frequente descobrir que uma criança tem algum nível de surdez apenas aos 3 ou 4 anos de idade — assim o teste reduz enormemente o tempo de detecção e ajuda a prevenir a criança de problemas ligados à linguagem.

No ambiente escolar, a inclusão tornou-se o alvo de tantas discussões para melhorias, sendo o desafio para a escola pública e a particular.

Para que a inclusão flua efetivamente, a escola precisa que os cinco pilares estejam alinhados por igual, para que o ambiente seja favorável para a criança surda, aliás, todas as crianças com deficiências.

Meirelles deixa claro a descrição de cada pilar:

1. Políticas públicas: criar leis e obter decisões judiciais para concretizar os direitos à Educação.

2. Estratégias pedagógicas: buscar práticas voltadas ao ensino e à aprendizagem de todos os alunos.

3. Família: fortalecer a relação com a escola de modo a favorecer a criança com NEE.

4. Parcerias: buscar fatores externos para dar apoio aos processos ligados à questão.

5. Gestão escolar: incluir o tema em planos de ação no projeto político pedagógico (PPP).

 

A língua de sinais é suporte para o pensamento

Vale lembrar que a ideia da inclusão se deu logo no fim do século XIX. Vygotsky (Vygotsky, 1997) defendeu a não segregação dos alunos com necessidades especiais, tendo em vista que as interações sociais entre grupos heterogêneos são condições fundamentais para o desenvolvimento do pensamento e da linguagem.

Face a problematização da criança ligados a linguagem, podemos observar que a escola encontra sérias dificuldades de organizar as aulas com as crianças que possuem poucos sinalários*, ou até mesmo possui nenhuma comunicação. Desta forma, a escola precisa trabalhar exaustivamente, devido ao atraso do desenvolvimento cognitivo da criança.

Vygotsky deixa claro que: “explicitou nos seus estudos que se uma criança estiver inserida em uma comunidade e utilizar uma língua em suas interações com os membros da mesma, valer-se-á desta língua tanto para comunicar-se como para o seu desenvolvimento cognitivo, a partir da internalização desta língua”.

Então, assumindo as ideias de Vygotsky sobre linguagem e pensamento, chegamos à conclusão de que somente a língua de sinais pode suprir a função de suporte para o pensamento, permitindo que o surdo tenha um desenvolvimento normal, equiparado ao de uma criança ouvinte.

Diante do cenário que encontramos nos dias de hoje, é importante o envolvimento de todas as pessoas na vida da criança surda. Além de adquirir a língua de sinais, ela precisa:

  • Conviver com outras crianças e adultos surdos, em pequenos e grandes grupos, utilizando diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em relação à cultura e às diferenças entre as pessoas.
  • Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais.
  • Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento da gestão da escola e das atividades propostas pelo educador quanto da realização das atividades da vida cotidiana, tais como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando conhecimentos, decidindo e se posicionando.
  • Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na escola e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia.
  • Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas diversas experiências de cuidados, interações, brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em seu contexto familiar e comunitário.

E como podemos fazer com a criança surda adquirir todos esses itens citados acima? A resposta é simples: brincando!

Sim, isso mesmo, a criança surda vai aprender tudo, com o tempo dela, brincando. Vygotsky ressalta a importância do brincar: “O brincar é uma atividade humana criadora, na qual imaginação, fantasia e realidade interagem na produção de novas possibilidades de interpretação, de expressão e de ação pelas crianças, assim como de novas formas de construir relações sociais com outros sujeitos, crianças e adultos.”

E todas as brincadeiras podem ser adaptadas para criança surda. Esses materiais devem ser adaptados seguindo as regras:

  • 1. Requer a adaptação para a Língua de Sinais.
  • 2. Requer um objeto visual para compreensão da brincadeira.
  • 3. Caso haja regras, explicar com clareza e simular a brincadeira para que a criança compreenda.

Saber brincar com a criança surda faz o diferencial na vida do educador, pois é o ser humano que mais precisa de apoio, compreensão e amor. Apenas têm uma única privatização: a audição. Buscar sempre as alternativas para o desenvolvimento do biopsicossocial de todas as crianças, pois esse é o papel primordial no ambiente escolar. Lembrando que nada é impossível, basta torná-las possíveis.

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* Sinalários: é o conjunto de expressões que compõe o léxico de uma determinada língua de sinais (STUMPF, 2005).

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Referências

    FREITAS, Maria Teresa de Assunção Freitas, O Pensamento de Vygotsky e Bakhtin no Brasil, Ed. Papirus 2002

    OLIVEIRA, Marta Kohl – Vygotsky: Aprendizado e Desenvolvimento, um Processo Sócio-Histórico, Ed. Scipione, 2010

    MEIRELLES, Elisa – Cinco dimensões da inclusão – https://novaescola.org.br/conteudo/4477/cinco-dimensoes-da-inclusao – publicado em 13/12/20113 – acessada em 18/04/2018.

    PINTO, Thiago Júlio, VERGARA, Geneci Marques Souza – Aquisição e o desenvolvimento de linguagem da criança surda – publicado em 20/02/2018 – https://webinsider.com.br/a-aquisicao-e-o-desenvolvimento-de-linguagem-da-crianca-surda – acessada em 18/04/2018

    VYGOSTKY, Lev Seminovich – A Formação Social da Mente: O Desenvolvimento dos Processos Psicológicos Superiores,Ed. Martins Fontes, 2007

    VYGOSTKY, Lev Seminovich – Pensamento e Linguagem – Ed Martins Fontes, 2000

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    Outrolado_

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    Desafios e perspectivas da educação inclusiva

    Geneci Vergara é professora universitária e psicopedagoga.

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