Aumenta que isso aí é Rock-and-Roll!

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O Rock-and-Roll surgiu no início da década de 1950 e evoluiu para diversos formatos. Suas bases estão aí e permanecem bem vivas.

 

Quase todas as crianças da minha geração ganharam eventualmente dos pais um rádio de pilhas, o que nos fazia ir para a rua ouvindo algum programa de interesse. E dos programas favoritos da garotada era “Hoje É Dia De Rock”, transmitido pela Rádio Mayring Veiga e tempos depois na TV Rio, local onde apareceram os membros da chamada “Jovem Guarda” dos anos 60.

Através desse tipo de programa é que público jovem brasileiro tomou conhecimento dos artistas de rock norte-americanos, onde a música se originou, e depois, na era televisiva, de artistas como Roberto e Erasmo Carlos. Este último eu vi algumas vezes circulando pela Tijuca, perto de onde eu morava. Dizem que foi no Bar Divino, ao lado do Cinema Madrid, na Rua Haddock Lobo, o local onde esta turma se reunia.

Olhando em retrospectiva, o Rock-and-Roll americano ainda hoje é alvo de apreciações literárias, ou trabalhos de revisão, encorpando uma grande parte no seu aparecimento, e resistência social frente à sociedade conservadora pós guerra de seu país.

Como estilo de música, o Rock nasceu de derivações do Rhythm And Blues e do Boogie-Woogie, e ainda sofre influência direta da chamada Música Country e do Gospel, vertentes caipira e religiosa, respectivamente.

É difícil fazer marcações de delimitação entre estes gêneros de música ou como eles se fundem, ao ouvir o Rock tradicional. A verdade é que confessadamente muitos músicos brancos de Rock eram admiradores do Jazz e do Rhythm and Blues, o segundo derivado do primeiro, e aprenderam ambos com músicos negros, como Fats Domino, por exemplo.

O Rock aparece no início dos anos de 1950 e resiste até meados da década seguinte, sendo depois destronado pelas modificações europeias, notadamente a dos Beatles.

A fusão com a música Country tem a sua explicação no fato de que vários dos músicos de Rock vinham das pequenas cidades do interior americano. Basta ver o histórico de vida de cada um deles para perceber isso. E, não por mera coincidência, os primeiros estúdios que gravaram Rock-and-Roll eram de pequeno porte. Um exemplo é a Sun Records, em Memphis.

Gravadoras de pequeno porte iriam eventualmente perder seus contratados para gravadoras de grande porte, por causa do sucesso de aceitação de artistas e do gênero musical. O caso mais notório foi o de Elvis Presley, lançado pela Sun e depois levado embora pela RCA, ou ainda de Johnny Cash, que saiu da mesma gravadora para a Columbia. Selos como a Sun e outros foram pioneiros na divulgação do Rock, mas não resistiram ao aumento do sucesso comercial desta exposição.

É interessante notar que antigos astros de Rock mudaram seus estilos de interpretar e repertórios, à medida em que a idade deles avançou, na tentativa de acompanhar o seu público adolescente, que ia amadurecendo em faixa etária. Foi o caso de Elvis Presley na América e Roberto Carlos no Brasil.

Outros músicos continuaram “roqueiros”, mas fadados ao esquecimento. Nem mesmo o movimento hippie, da década de 1960, foi capaz de ressuscita-los devidamente, apenas com ocasionais menções de influência ou de execução do antigo repertório.

No filme “De Volta Para o Futuro”, lançado em 1985, Chuck Berry é lembrado através do seu primo fictício Marvin Berry, no ambiente de 1955.

Em 1952 o enorme sucesso de Bill Halley ficou registrado fonograficamente em 1954 na Decca, e em 1956 no filme “Ao Balanço das Horas” (“Rock Around the Clock”), onde aparece também o lendário conjunto vocal The Platters. O filme tenta mostrar que o Rock-and-Roll era inofensivo para a juventude da época, mas esta não era a realidade que se avizinhava.

 

 

Nem todas as gravações da era do Rock eram exclusivamente “roqueiras”. Admitia-se que a juventude da década de 50 gostaria de formar pares para dançar colados, o que exigia a interpretação estilizada de músicas românticas.

Em 1959, o conjunto vocal “The Platters” gravou “Smoke Gets In Your Eyes” para o álbum da Mercury “Remember When?”, música originalmente interpretada nas telas de cinema por Kathryn Grayson, no filme M-G-M “Lovely To Look At“, de 1952. Quem até então nunca tinha visto o filme, poderia até achar que foi standard daquele conjunto vocal.

 

O Rock como símbolo da rebeldia e das controvérsias

O Rock era visto na sociedade conservadora americana como algo demoníaco e deseducativo. Acreditava-se que a música influenciava os jovens para se tornarem delinquentes juvenis. Aqui no Brasil chegou-se a usar o termo “Juventude Transviada” para rotular grupos de jovens com tendências criminosas, em alusão ao filme “Rebel Without a Cause”, com o ator James Dean, símbolo deste tipo de rebeldia, e que acabou estigmatizado por este personagem.

 

 

Aqui cabe uma observação importante: o(a) jovem adolescente é logo cedo aflito(a) por variações hormonais que irão expressar todos os caracteres sexuais secundários. É nesta fase que a rebeldia aos costumes e às disciplinas paternas se instala na cabeça do adolescente, e muitos pais (principalmente naquela época) não têm (tinham) a mínima noção com o que estão tratando!

É dentro deste contexto que se insere o Rock-and-Roll, pouco importa se por uma suposta influência do pós-guerra ou não. É de esperar que, depois de uma longa temporada de perdas de vidas, a sociedade como um todo vivesse uma expectativa de paz e sossego. É também compreensível que a juventude do pós-guerra não quisesse se juntar a este clima de paz, na realidade queria sair da vida monótona para a agitada, porque os hormônios ditam isso no comportamento psíquico!

O Rock reflete o maneirismo e as ansiedades típicas das mudanças hormonais, a necessidade de experimentar coisas novas, de explorar o mundo, independente da ditadura paterna, quando ela existe. E, justiça, seja feita, no Rock da década de 1950 os títulos das músicas e as letras exploraram a sexualidade de forma explícita, daí a reação compreensível dos pais, preocupados em ver seus filhos em situações difíceis de contornar.

Se alguém duvida, basta ver a letra do grande sucesso de Jerry Lee Lewis “Great Balls of Fire”, onde se ouve “I want to love you like a lover should”, sugerindo uma relação íntima. “Balls” é um termo ambíguo, podendo significar “bola” no sentido do objeto, ou “bolas” no sentido das gônadas. A palavra “Fire” é mais claramente contextualizada como pessoa com tesão.

Se ninguém levar literalmente o sentido das palavras para o lado do sexo, então a música de Jerry Lee Lewis é apenas uma grande diversão dançante. Mas, o nosso exótico Jerry Lee casou-se com uma prima de apenas 13 anos de idade, o que o levou a ser recriminado pela sociedade da época. Em Londres, este fato gerou uma confusão que praticamente retirou o músico da sua turnê. A imprensa da época, tanto na Inglaterra como na volta para a América enfatizou esse suposto erro de conduta.

O Rock como herança

Por mais que se tente ressuscitar o Rock-and-Roll da década de 1950, e notem que os dois Bobs (Zemeckis e Gale) de “De Volta Para o Futuro” tentaram isso de uma forma muito inteligente, os esforços acabam infrutíferos. No filme dos dois Bobs o roteiro mostra que a mãe do garoto Marty era super liberada na adolescência, bebia e fumava escondida, portanto a associação Rock versus juventude de inocente não tinha nada. E não tinha mesmo, por mais que se acredite que a moçada da década de 50 era comportada ou menos sexualmente agressiva.

Como música, eu entendo que o Rock tradicional morreu, porque acabou dando lugar aos protestos contra a guerra do Vietnam e outros fatores sociais que acabaram empurrando a juventude de 1960 para o inconformismo contra a hipocrisia que havia se instalado na América pós-guerra. E foi mais ou menos nesta época que o movimento hippie apareceu com força e com a experimentação de novas drogas, como, por exemplo, o LSD, na forma de escapismo ao status quo vigente.

Os ingleses avançaram ainda mais rápido, e a presença de “jovens cabeludos” em território americano no início dos anos 60 causou perplexidade e diversos tipos indagação. A maioria dos roqueiros britânicos nunca negou a influência anterior do Rock americano, pelo contrário. E os jovens americanos reconheceram isso, acelerando a aceitação dos grupos que vieram de fora.

Controvérsias à parte, o Rock-and-Roll foi no geral um gênero de música alegre, com algumas letras inocentes e outras puxando para a sexualidade adolescente. Foi, e ainda é, agradável de ouvir principalmente durante os anos que perdurou na mídia (rádio e depois TV) e certamente deixou momentos agradáveis na memória de quem hoje vive a terceira idade. Outrolado_

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Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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