O glorioso Technicolor de três películas

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Em Glorioso Technicolor – foi assim que nós vimos os melhores filmes coloridos do passado. O processo de captura com três negativos ainda pode ser visto hoje nos filmes restaurados para alta definição.

 

A expressão de língua inglesa “In Glorious Technicolor” foi usada pelos produtores de cinema e depois também como forma de expressão popular, quando alguém se refere a algum evento ou imagem importante.

A expressão se refere ao formato de cores produzido com o uso de 3 negativos dentro da câmera, inventada por Burton Wescott e Joseph A. Ball, em 1932, e que durou até 1955. Na época, o processo foi batizado de “3-strip Technicolor”.

Antes de este formato aparecer, uma série de tentativas foram feitas com o mesmo objetivo, mas a maioria delas se restringia à captura das cores vermelha e verde, ficando o azul de fora, limitando assim a qualidade cromática do fotograma.

Uma tentativa na captura das três cores do espectro, mas usando o método subtrativo representado por Ciano, Magenta e Amarelo (CMY), que são cores complementares de Vermelho, Verde e Azul, respectivamente, acabou não dando certo.

Em sistemas pigmentares modernos introduz-se um componente chave (K), de cor preta, formando o método subtrativo CMYK, usado nas impressões a tinta, com melhor renderização das cores. Este processo de formação de cores é chamado de “cor pigmento”.

Um formato inicial de CMY foi o processo chamado de Cinecolor, que levou nomes comerciais como o ComiColor, na série de cartoons feitos por Ub Iwerks, um total de cerca de 25 curtas:

 

 

O Cinecolor peca pela falta de registro de cores como verde claro ou púrpura, renderizados como outras tonalidades ou simplesmente ausentes. No geral, a saturação é apenas razoável. Eu tive em mãos um desenho desses, em película 16mm, que foi exibido com um projetor mudo EKA alemão, com lâmpada de 350W, se não me falha a memória.

A imagem era muito boa, em grande parte por causa da lente daquele projetor, e a cor razoável, mas nunca vibrante como a de outros filmes daquela época. A imagem Cinecolor (ComiColor) acima capturada é de um DVD Image, autorado com filmes de colecionadores, também em cópias de 16 mm.

A evolução da captura Technicolor

O Technicolor com 3 negativos foi a quarta tentativa de reproduzir cores em um espectro bem mais amplo. O formato herdou dos processos subtrativos (CMY) a inserção de um pacote duplo de negativos, chamado em inglês de “bipack”, que recebe luz da objetiva:

 

 

Um prisma no interior da câmera faz passar luz diretamente para o negativo sensível ao verde, e desvia esta luz em 45 graus, que assim atinge o pacote duplo com os outros dois negativos. Estes são alimentados a partir dos seus respectivos rolos dentro do magazine, e são juntados antes da objetiva emulsão contra emulsão.

Um desses dois negativos, que fica na frente da luz vinda da objetiva, é sensibilizado pela cor azul, mas ele contém também um filtro de luz na forma de um corante vermelho, que bloqueia os comprimentos de onda da luz azul e deixa passar luz vermelha, que impressiona o negativo que fica posicionado atrás. O conjunto câmera e transporte pode ser visto a seguir:

 

 

Depois das tomadas da câmera os três negativos são lavados e posteriormente embebidos com corantes das respectivas cores complementares: ciano para a cor vermelha, magenta para a cor verde, amarelo para a cor azul, formando assim as cores pelo processo subtrativo, destinado à cópia para exibição.

O componente K é registrado em um filme preto e branco virgem, a partir do negativo da cor verde, e juntado posteriormente na composição final dos fotogramas dos outros negativos.

Durante este processamento final, cada negativo é superposto de maneira a casar perfeitamente a imagem, caso contrário aparecerão franjas de outras cores em torno de cada objeto de cena. Este é, não por acaso, o pior problema quando um filme deste tipo é restaurado e uma das películas encolhem na estocagem.

O erro atualmente é corrigido em ambiente digital, antes da formação do intermediário digital.

O resultado final fala por si próprio e nós ainda hoje podemos vê-lo na restauração de diversos filmes daquela época:

 

Embora tenha sido “Robin Hood”, de 1938, filme que notabilizou o ator Errol Flynn, o que de melhor se obteve em termos de Technicolor de 3 negativos, ainda assim é possível assistir às virtudes cinematográficas deste processo na animação do estúdio Disney e na série de musicais da M-G-M.

O término do formato

Apesar da excelência da reprodução de cores, o formato Technicolor de 3 películas parou de ser usado, por conta de uma série de fatores, um dos principais o alto custo da produção dos filmes.

Mas outros fatores foram igualmente decisivos para o abandono do formato:

A câmera Technicolor não era exatamente leve, e quando inserida em um blimp, que é um gabinete abafador do ruído da câmera, o conjunto era enorme e naturalmente desajeitado:

 

 

A companhia Technicolor mantinha um forte controle sobre os meios de produção. Esse controle ia desde a alocação de câmeras e acessórios, até a presença de um representante da empresa no set de filmagem. Um desses representantes, pessoa sempre presente nos estúdios, foi Natalie Kalmus, esposa do fundador da Technicolor Herbert Kalmus.

A presença aparentemente ditadora de Natalie causou constrangimento em diretores, cenógrafos, diretores de fotografia, iluminadores, etc. O seu nome constaria obrigatoriamente como diretora ou supervisora Technicolor, nos créditos de abertura dos filmes. Um exemplo pode ser visto a seguir, no filme M-G-M “Meet Me In St. Louis” (no Brasil, “Agora Seremos Felizes”), de 1944:

 

 

Outro fator que acabou liquidando o Technicolor de 3 negativos foi a fabricação de negativos coloridos capazes de registrar todas as cores de uma só vez e em uma única película, o que diminuiu custos e processamento. Um exemplo notório foi o aparecimento dos negativos Eastmancolor, fabricado pela Kodak.

Por causa do Eastmancolor, os estúdios eventualmente se livraram dos laboratórios da Technicolor, criando os seus próprios, e com nomes pertinentes, como Metrocolor, Warnercolor, DeLuxe, etc.

O uso de três negativos foi importante para mostrar o uso da captura de cor com alto contraste e saturação, mas o tempo mostrou que essa não era a melhor maneira de se fazer cinema.

Situação parecida ocorreu com o Cinerama de três películas, eventualmente substituído pelo Todd-AO, que usou apenas um único negativo de 65 mm, com o mesmo efeito de tela curva, além de permitir a projeção em 70 mm com tela “plana”.

A empresa Technicolor teve que se adaptar a estas mudanças, e ainda é hoje uma gigante no campo da pesquisa de renderização de cores. Um dos seus últimos avanços está presente no pré-ajuste de cores que leva o seu nome, em várias marcas de TV, no Brasil representada pela LG, nos modelos OLED.

Com a ausência dos projetores de película nos cinemas e cópias novas que pudessem ser exibidas, os filmes Technicolor daquela época só podem ser revistos nas edições restauradas dos filme produzidos naquele período.

Mas, mesmo assim, é com enorme prazer que cinéfilos e estudiosos ainda podem ter acesso ao que foi feito, neste processo que melhor representou os filmes coloridos de qualidade do passado, todos em “Glorioso Technicolor”.  Outrolado_

. . .

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Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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0 resposta

  1. Caro Claudio,

    Concordo plenamente com a linha do seu raciocínio, acho que teremos aspectos positivos na prática desta concessão do not call, porém, não devemos nos esquecer que aparecerão as linhas negativas em nosso setor, como por exemplo: a mão de obra tornará mais especializada para atender o mercado, em contra-partida as empresas diminuirão os envestimentos para o setor, caso a mídia continue divulgando a existência desta lista e assim, as vendas serão substituídas de receita por despesas.

    Sejamos otimistas, acredito na profissionalização e satisfação do cliente.

    Abraços,

  2. Ao autor dessa lauda,

    queira por gentileza, proceder a correção na palavra direito, na 1ª linha acima, no caput, logo abaixo da data/hora, onde se-lê: Associação Brasileira de Marketing Direito,
    leia-se: Associação Brasileira de Marketing Direto

    Abraços

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