O Retorno de Mary Poppins (2018) comparado a Mary Poppins (1964)

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Certos filmes não deviam ser refeitos. É o caso de O Retorno de Mary Poppins, onde uma comparação pode ser bastante desfavorável.

 

Eu já escrevi sobre Mary Poppins antes, para o Webinsider, e mais recentemente escrevi também sobre o lançamento de O Retorno de Mary Poppins, que aconteceu dias atrás.

Tomei coragem (é sério) e fui ao cinema ver. Pedi ao meu filho para me acompanhar, já que andamos juntos nesses últimos dias, para alguns eventos memoráveis. Não disse nada, mas, apesar da expectativa positiva, eu estava com uma sensação de que algo nada agradável estava para acontecer. Infelizmente, não deu outra!

Acho, em princípio, injusto fazer este tipo de comparação, porque cerca de 50 anos separam as duas produções, uma delas, a de 1964, que ficou na lembrança dos fãs e constantemente revisitada através das edições restauradas nas mídias de vídeo. A outra, uma incógnita. E vale lembrar que a produção do filme atual foi cercada de um mistério incrível, agora entendo por que.

Em sendo assim, as comparações ao final são inevitáveis. Bem que eu me esforcei, mas o meu filho, que já não lembrava muito do primeiro filme, nem tanto. Por conta desta diferença de apreciação, eu me senti mais tranquilo, para afirmar o que vem a seguir:

Mary Poppins antigo

Mary Poppins, lançado em 1964/1965, foi cercado de circunstâncias que quase impedem Walt Disney de realizar o filme, e isto, para sorte dos cinéfilos, está muito bem documentado nos arquivos do estúdio, depois se tornando alvo do filme “Saving Mr. Banks”.

Foi a própria P.L. Travers quem insistiu em gravar em fita magnética as suas observações sobre o andamento do roteiro. O interessante é que neste quase documentário feito sobre isso, o grande roteirista Don DaGradi é mostrado fazendo rascunhos, anotando frases de Mrs. Travers e desenhando posturas dos trejeitos dela, a maioria saindo na montagem final do filme.

As agruras de Walt Disney começaram e pararam com P.L. Travers. De resto, ele fez de tudo para que o filme fosse realizado com brilhantismo, e foi. Contratou Julie Andrews, na época uma atriz estreante no cinema, e de tabela seu marido, para a parte cenográfica do filme.

Mary Poppins de 1964 tem um roteiro muito bem amarrado por Bill Walsh e DaGradi, ambos experimentados cineastas. E conta com a direção sólida de Robert Stevenson, que passou por cima da falta de experiência de Julie Andrews que nem um trator. Quem assistiu ao filme em 1964 e não sabia quem era aquela atriz jamais iria acreditar que era de fato a sua primeira aventura diante das câmeras.

Quando a Dick Van Dyke, que não era dançarino, a mesma coisa. Suas rotinas de dança surpreendem pela versatilidade e habilidade no trato com a trilha sonora.

O filme é feito de segmentos separados, extraídos dos livros de P.L. Travers, mas em nenhum momento se percebe descontinuidade no roteiro. E todas as músicas, sem exceção, se encaixam como uma luva no desenrolar da estória, ao final da qual a plateia sabe por que Mary Poppins desceu dos céus para ajudar aquela família.

Inicialmente, parece que Poppins está ali para dar um jeito nas crianças, mas no final se percebe que ela conserta a família toda, e não somente o pai, como tem sido sugerido. O que torna o filme completo e lhe dá credibilidade é a presença de atores que personificam seus personagens com notável proficiência!

Mary Poppins é um pouco longo, é verdade, mas a espirituosidade e mensagem otimista, fortemente aliada à fantasia do personagem título, torna o filme perdoável pela sua duração na tela.

Mary Poppins 2018

Hollywood sempre tentou reprisar sucessos, refilmar películas que fizeram anteriormente sucesso com o público. Mas, o que determina produzir algo nesta direção chama-se “falta de criatividade”!

Posso estar enganado, mas se Walter Elias Disney estivesse vivo ele seria contra produzir de novo um dos seus melhores filmes. Porque Mary Poppins tem uma história que é quase impossível de ser reprisada, devido às circunstâncias com as quais o original foi feito.

Meryl Streep e Emily Blunt

E eu gostaria de saber quem foi o gênio que teve a brilhante ideia de convidar Meryl Streep, mulher que falou maldosamente sobre Walt Disney em passado recente, atribuindo a ele uma personalidade racista. O ódio desta mulher perpetrado contra Walt Disney deveria ser um impedimento da presença dela no estúdio, mas parece que a vaidade falou mais alto outra vez. E uma vez assistindo o filme, percebe-se que a dita cuja Meryl tem uma participação medíocre e desnecessária.

Acho que a maior decepção do novo filme foi Emily Blunt, atriz que eu pessoalmente gosto muito e que tem, no geral, feito filmes de bom nível. Posso imaginar que Miss Blunt deve ter tido calafrios ao evitar reprisar Julie Andrews, e talvez por causa disso a sua interpretação é fria e contida.

O que mais me impressionou foi o contraste inevitável de interpretação: enquanto Julie Andrews alterna sua persona com diversos tipos de reação, ora firme, ora gentil, ora dissimulada, ora educadora, Emily Blunt executa o personagem com uma interpretação linear, ou seja, a cara dela não muda praticamente durante o filme todo.

 

 

O esforço honesto de Emily Blunt esbarra na repetição sistemática de cenas já vistas anteriormente, como por exemplo, a sua duplicação no espelho da casa. E ela é prejudicada várias vezes pela ausência de segmento no desenrolar da estória.

Os roteiristas parecem perdidos tornando o filme uma colcha de retalhos. Um exemplo gritante é do vaso precioso da avó que foi para o conserto e desaparece sem que a plateia saiba o que aconteceu com ele.

Emily Blunt canta e não dá vexame, mas está longe da sensibilidade e qualidade da voz de Julie Andrews, assim como Lin-Manuel Miranda canta sem desafinar, mas não transmite nada.

Justiça seja feita, ambos não são ajudados pela trilha sonora meia bomba de Marc Shaiman, que tem uma filmografia extensa, mas fracassa de forma retumbante neste projeto. A gente sai do cinema e nem lembra que músicas foram tocadas lá.

E não é por falta de dança. O diretor/coreógrafo Rob Marshall e seus roteiristas entopem o filme de músicas e danças. Para que, eu até agora não sei.

Tem muita gente que é contra refazer filmes ou arquitetar sequências, mas hoje em dia se faz mais do que isso, que é tentar explicar a gênese dos personagens. Pelo menos isso não foi feito aqui, mas de nada adiantou porque a estória atual não tem credibilidade alguma, e as soluções de cena são tão óbvias, que dói assistir!

Tudo isso é uma pena. Eu passei grande parte do final deste ano com grande expectativa de ver ressurgir uma personagem que marcou época na minha adolescência e cujo filme acabou se tornando um marco de conquistas técnicas, como a introdução da luz de sódio nas imagens em compósito.

Saí do cinema sem saber o que dizer para o meu filho, que aturou aquilo tudo junto comigo. Mas, ele também achou o filme fraco sem traçar comparações com o filme anterior, o que para mim foi um alívio.

Eu bem que gostaria de pedir mais, mas diante do que eu vi só posso condenar a falta de escrúpulo e da ambição por faturar mais, em um ambiente que tem tudo para estragar o que melhor o cinema tem.  Outrolado_

. . .

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Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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