Uma (gratificante) experiência cultural

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Reencontrar alguém que nos formou e deixou uma marca de qualquer tipo é uma experiência de vida gratificante. Eu tive o privilégio de rever a Professora Bridget de Moura Castro, que me ensinou inglês, formada em música, tocando com Luiz de Moura Castro, com quem formou um Duo na década de 1960, e que se apresentou no programa Concertos Para A Juventude, da TV Globo, onde eu a vi tocar ao vivo pela primeira vez em um concerto de órgão.

 

O meu querido primo Carlos Alberto, que tanto me estimulou a ir embora para a Grã-Bretanha fazer doutorado, quando eu e minha família chegamos em Warwickshire, onde ele morava, volta e meia nós fazíamos uma pequena viagem para cidades que ele e sua mulher consideravam importante.

E sempre me dizia: “é uma experiência cultural”, na base da farra. Mas, era mesmo!

E não é que nesta semana eu tive uma das “experiências culturais” das mais gratificantes: o meu filho mais novo me convida para ir a um outro concerto musical, desta vez na Igreja da Irmandade da Santa Cruz dos Militares, onde seria apresentado um repertório de música erudita escrita para órgão.

Para quem não conhece o Rio de Janeiro, a Rua Primeiro de Março fica bem no centro da cidade e abriga um monte de prédios e igrejas centenárias. E como de hábito, essas igrejas tem dentro delas um órgão de tubo, instrumento que se serve da acústica local.

 

 

Eu sou totalmente neófito quando se trata de música erudita, mas eu sei que grandes compositores como, por exemplo, Bach, pertencem à música barroca, de grande valor para os aficionados, e de especial valor também para audiófilos.

Chegando lá, eu peguei o programa e para a minha surpresa a organista era Bridget de Moura Castro, minha professora na Cultura Inglesa, localizada na Rua Almirante Cochrane, Tijuca, Rio de Janeiro, onde estudei a partir dos meus 12 anos de idade.

Era comum naquela época os pais mandarem os filhos para estudar inglês e lá em casa não foi exceção. Dois cursos, IBEU (de orientação norte-americana) e Cultura, concorriam para este privilégio. Depois outros cursos, mais comercialmente orientados, surgiram no bairro. A Cultura que eu conheci era puro “cuspe e giz”, bem tradicional mesmo.

Mrs. Bridget já era casada com o pianista Luiz Carlos de Moura Castro, tocava clarinete e formava com ele o Duo Moura Castro. Um belo dia, ela nos convida para assistir um concerto a ser dado no programa Concertos Para A Juventude, transmitido ao vivo pela TV Globo, canal 4, nas manhãs de domingo.

Foi por causa da música que eu nunca esqueci a Professora Bridget de Moura Castro. Houve um momento, ainda em sala de aula, que ela nos contou ter cantado partituras de Bach com o lendário grupo vocal Les (The) Swingle Singers, formado na França na década de 1960, unindo “scat singing” à música de Bach, depois gravando o Lp “Jazz Sébastian Bach” pela Philips.

Este estilo influenciou a música popular e exemplos típicos estão nas trilhas de “Butch Cassidy e Sundance Kid”, por Burt Bacarach, e “Os Sete Homens de Ouro”, composta por Armando Trovaioli.

 

 

Havia na época do Swingle Singers uma teoria sobre a influência de Bach na formação do Jazz. Eu tive, mas infelizmente perdi, um livro de um historiador alemão (cujo nome não me lembro mais) falando sobre esta teoria. Ela parte do princípio de que em New Orleans da virada do século 19 para o 20 os concertos de música erudita teriam influenciado os primeiros músicos (Buddy Bolden, por exemplo) com um fraseado que depois teria sido a base na qual o Jazz seria criado.

O concerto daquele início de tarde, por coincidência, incluía peças de Bach:

 

 

A Professora Bridget de Moura Castro tem uma passagem acadêmica expressiva pelo Rio de Janeiro, mas já na década de 1960 saiu do país para completar seus estudos e viver com o marido e a família nos Estados Unidos. Luiz de Moura Castro, que eu só vi pela televisão, graduou-se na Escola de Música da UFRJ, e teve uma carreira acadêmica próxima da esposa.

Atualmente, a família vive na América, mas vem ao Brasil, segundo ela, para visitar os amigos e rememorar a língua portuguesa. Eu sou testemunha que Mrs. Bridget era dona de um português impecável, nas poucas vezes na sala de aula que ela não falava alguma coisa em inglês. Sua fala, lembro bem, era mansa e serena, deixava os alunos (a maioria de nós adolescentes) totalmente à vontade.

A visita do casal também permite “dar uma canja”, como dizem os músicos. O concerto que assistimos foi gratuito. Como o órgão deste tipo fica sempre na parte traseira superior das igrejas, os organizadores instalaram uma câmera de vídeo, conectada a um projetor remoto, para que os ouvintes (que se sentam de costas para o órgão) pudessem ver a organista e seu acompanhante Thiago Debossan, que interpretou a parte vocal de algumas das peças.

A acústica deste tipo de igreja dispensa o uso de microfone, o que é ótimo, porque tudo o que a gente quer é ouvir música acústica.

 

 

Ao final do concerto, eu fui falar com a minha professora, e quando eu disse sobre a minha fase de adolescente na Cultura ela muito gentilmente disse que se lembrava de mim, mas achei isso apenas um gesto diplomático.

O que me deixou feliz foi a chance de dizer a ela que eu sou muito grato a todos os professores que me formaram.

Eu sempre tive curiosidade de saber como as pessoas que viveram ao meu redor evoluíram. Acho admirável o envolvimento de alguém com a música, pouco importa a idade avançada.

Muitos compositores nunca pararam de tocar ou compor, até morrerem. Porque a música diz respeito ao que existe de mais nobre no espírito humano e isso fica para o resto das nossas vidas, seja ouvinte seja intérprete ou compositor!  Outrolado_

. . .

 

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Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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