O retorno ao mundo do cineasta Michael Cimino

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Foi lançado recente o filme O Ano Do Dragão, em edição de alta qualidade, como parte da série da Warner Archive Collection, e ali aparece uma ótima chance de rever a obra do cineasta Michael Cimino, na sua curta mas importante filmografia.

 

 

Quando a rebeldia dos então jovens cineastas da Zoetrope, capitaneada por Francis Ford Coppola, George Lucas, John Millius e outros, acabou formando a alegada “Nova Hollywood”, o roteirista e depois diretor Michael Cimino aparentemente não estava junto.

Cimino começou a sua carreira no cinema como roteirista e teve depois em Clint Eastwood o incentivo para se tornar diretor. Durante anos a sua personalidade alegadamente excêntrica, e atitudes que geraram controvérsias com produtores, terminaram por encerrar a sua carreira como cineasta mais breve do que devia.

Cimino teria sido o grande culpado por enterrar a United Artists, quando da realização de “O Portal do Paraíso” (“Heaven’s Gate”), filme que ultrapassou o orçamento, com uma produção lenta e cercada de problemas.

O diretor fazia mais de cinquenta tomadas da mesma cena, em uma procura obsessiva pela autenticidade da estória. E obrigava atores a uma rígida disciplina de aprendizado de coisas como dança sobre patins, cavalgada, etc. O objetivo foi fazer um épico, mas historicamente este tipo de filme é de custo elevado. E quando lançado o fracasso de bilheteria e a condenação do trabalho do diretor acabaram por fazer a United Artists mudar de dono.

Um grande ressentimento dos produtores contra Cimino ficou por conta do orgulho que a produtora tinha em financiar filmes de forma independente, motivando jovens cineasta, e isso ficou ameaçado de continuar.

 

 

Nada disso, entretanto, retira de Michael Cimino a sua excelência como realizador, e muitas das críticas a ele feitas são injustas e profundamente suspeitas. A prova de que essas críticas não são compartilhadas por fãs de cinema que nada têm a ver com isso tem sido o sistemático relançamento nos cinemas lá de fora de cópias em UHD (4K) de seus melhores filmes, incluindo Heaven’s Gate. O trabalho de restauração e transferência de película para vídeo foi supervisionado pelo próprio Cimino, antes de sua morte em 2016.

O maior sucesso de Michael Cimino nos cinemas, e que causou grande impacto no público, por ocasião de seu lançamento, foi sem dúvida “O Franco Atirador” (“The Deer Hunter”), de 1978.

 

 

Neste filme, o fantasma da situação dos norte-americanos na guerra do Vietnam vem assombrar o público, ao mostrar o contraste da vida de família com a miséria da guerra.

No final, a curta carreira de Michael Cimino interrompeu um fluxo criativo sobre a observação do comportamento da sociedade americana, e talvez por isso ter sido feito de forma tão contundente a indústria de cinema acabou arrumando um pretexto para expulsa-lo de suas castas. Todos estes filmes, ou a maioria deles, estão disponíveis em Blu-Ray, para apreciação dos fãs ou estudantes de cinema.

Agora a pouco, um dos seus bons filmes, “O Ano do Dragão” (“Year Of The Dragon”), de 1985, produzido pela MGM, saiu finalmente das prateleiras e foi lançado como parte da série Archive Collection da Warner, que detém este catálogo.

 

Como de hábito, para a Archive Collection os laboratórios da Warner fazem uma transferência de película para vídeo com baixíssima compressão, e só isso já traz uma qualidade na imagem que eu nunca vi deste filme em suas versões para home vídeo.

O áudio também foi restaurado, agora com uma remixagem e transcrição da melhor qualidade, aumentando os níveis de ambiência e recuperando a sonoplastia de forma moderna. É bem possível que a trilha magnética de 6 canais, originalmente montada para a versão em 70 mm, tenha sido usada para esta restauração.

Tudo isso é muito bom, porque nos dá uma chance de apreciar o excelente trabalho de fotografia do inglês Alex Thomson.

O filme

Quem nunca assistiu O Ano do Dragão pode equivocadamente achar que se trata de mais um daqueles filmes de kung-fu, do estilo Bruce Lee. Mas, na verdade trata-se de um ambiente policial nova-iorquino envolvendo a tríade chinesa de Chinatown, bairro em Manhattan onde imigrantes chineses se localizam até hoje.

O ator Mickey Rourke faz o papel de Stanley White, um ex-combatente egresso da guerra do Vietnam, descendente de poloneses imigrantes, e que trabalha como tira na polícia. A confusão começa quando ele é encarregado de substituir um policial omisso, na vigilância do bairro, e decide encarar a máfia local.

Hoje com o rosto deformado, Rourke chegou a ser considerado um “sex symbol” pela mulherada, durante a década de 1980. Tal como Cimino, a sua carreira sofreu inúmeros hiatos, que o retiraram de cena.

Entretanto, a sua personificação como o detetive revoltado pela enrolação política durante a guerra do Vietnam é excelente. Stanley White é cínico, neuroticamente obsessivo, sexista, e com aparentes ares de racismo. Mas, em um dos diálogos com a repórter chinesa de um noticiário de TV Tracy Tzu ele afirma a ela que os operários chineses que trabalharam na construção de ferrovias no país nunca sequer apareceram em fotografias da época. Foi como se não tivessem existido.

Junto com Cimino, o também cineasta Oliver Stone escreveu o roteiro, e fica então mais ou menos óbvio que os comentários a respeito do Vietnam apareceram por causa desta parceria.

O Ano do Dragão foi também um desses filmes que não teve reconhecimento ou mérito, por ocasião de seu lançamento, por parte do público norte-americano, e até hoje eu me pergunto o motivo. Não há nada a respeito do Vietnam que não tenha aparecido com uma incidência muito maior em outros filmes. Existe alguma violência, mas duzentas vezes mais branda do que os filmes atuais mostram.

Se as pessoas na época não gostaram, afinal é um direito de cada um, mas também claramente não enxergaram a ótica obsessiva do personagem, querendo vencer a guerra que os políticos o fizeram perder propositalmente, e querendo fazer justiça nas ruas não importa as consequências.

Stanley White é um personagem fictício, mas que qualquer um de nós gostaria de ver combatendo o crime organizado e as máfias deste planeta.

A ótica igualmente obsessiva de Michael Cimino, preciosista nos detalhes, também colabora para que o filme tenha um tom de realidade, mesmo que na vida real ela dificilmente aconteceria!  Outrolado_

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Operação França relançado com as cores corrigidas

Silêncio no set de filmagens… Clint no filme A Mula

2001: Uma Odisseia No Espaço, em versão Blu-Ray 4K, Dolby Vision HDR

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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