O Hammond B3 e a sua influência na música

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O órgão eletromecânico inventado por Laurens Hammond ultrapassou as igrejas, para chegar ao Jazz, ao Rock e à música popular em geral. No Jazz, o órgão Hammond B3 teve no músico Jimmy Smith a sua maior presença, com gravações imperdíveis para os fãs do gênero.

 

O órgão de tubos teve um importante papel na divulgação da música erudita e na música sacra, quando instalado em igrejas. No bairro onde eu moro ainda existem 4 igrejas com este tipo de órgão, dois deles simplesmente majestosos. Mas, o problema deste instrumento é o custo, junto à instalação e manutenção.

Na década de 1930 o inventor norte-americano Laurens Hammond lançou um órgão eletromecânico, que levou o seu nome. Hammond patenteou a sua invenção em 1934 e em 1935 lançou o Hammond A, seu primeiro órgão.

Porém, em 1955 ele lançou os modelos Hammond B3 e C3, com diferença cosmética. O Hammond B3 iria se tornar o instrumento que transcenderia o ambiente das igrejas, para penetrar no mundo do Jazz e da música popular.

 

 

Inicialmente o destino dos órgãos Hammond eram as igrejas e as casas das pessoas interessadas em dar aos filhos uma educação musical, no lugar dos pianos convencionais.

Mas foi Jimmy Smith, entre outros, que tornou o Hammond B3 um instrumento destinado às peças de Jazz, tendo-o feito com inovadora criatividade!

 

 

Embora o Hammond B3 tivesse os seus próprios alto-falantes, foi através da caixa acústica inventada por Donald Leslie que tornou o Hammond bastante versátil. Embora Laurens Hammond não tenha gostado da ideia (alguns historiadores afirmam que ele chegou a sabotar Don Leslie), o fato é que o “Leslie Speaker” acabou se tornando peça integrante do órgão da Hammond, com os seus controles acoplados ao console do órgão:

 

 

 

A concepção do Leslie Speaker é bastante engenhosa: seu inventor usa os princípios do chamado Efeito Doppler, que se refere à mudança de timbre do som de um objeto em movimento, em relação a um observador parado. Para tanto, ele instala um woofer (alto-falante para sons graves) e um tweeter (idem, mas para sons agudos), com amplificação incluída. Ambos os alto-falantes são fixos, porém acoplados a dois difusores, que espalham o som no ambiente, produzindo um efeito tridimensional.

O tweeter está ligado a duas cornetas rotatórias, mas apenas uma delas deixa passar o som, com um efeito defletor, a outra é instalada para equilibrar a primeira, durante a rotação. O woofer é acoplado a um tambor rotatório, com a mesma finalidade de espalhamento do som.

 

 

 

O clipe a seguir mostra a caixa Leslie em funcionamento, com o som modificado para os dois ajustes, Coral (Chorale) e Vibrato (Tremolo):

 

A importância de Jimmy Smith no órgão Hammond para o Jazz

 

Críticos e entusiastas fãs de Jazz concordam que Jimmy Smith estabeleceu as bases para o som do órgão na fase moderna deste gênero de música. Já na década de 1950 Smith ajustou o timbre do Hammond ao seu estilo, o que fez tornar a sua forma de tocar distinta e singular. O clipe a seguir foi gravado no concerto reminiscente do selo Blue Note, realizado em 1985, com o título “One Night With Blue Note”. A música é “The Jumpin’ Blues”, com a participação do saxofonista Stanley Turrentine, ao lado do guitarrista Kenny Burrel, que acompanhou Jimmy Smith na grande maioria das gravações na Blue Note e Verve também, e o baterista Grady Tate, também personagem constante das gravações do organista. Se o leitor prestar atenção irá ver o Leslie Speaker bem ao lado do músico.

 

 

 

Jimmy Smith foi meu ídolo quando, ainda adolescente, próximo dos 13 anos de idade, comecei a descobrir os grandes músicos de Jazz do passado. O seu som inconfundível me impressionou durante anos, em gravações tanto da Blue Note quanto da Verve. Nesta última, ficou na minha história o álbum com Oliver Nelson chamado Monster, com arranjos inéditos de alguns temas de TV, incluindo o do seriado Os Monstros (“Theme From “The Munsters”), popular durante a década de 1960. O título do disco é um trocadilho óbvio com a “monstruosidade” de Jimmy Smith como músico de Jazz.

Por qualquer motivo que desconheço “Monster” foi uma daquelas gravações da Verve que nunca saiu em CD, talvez por perda do catálogo. Aqui em casa eu restaurei o antigo elepê, mas tempos depois, trocando ideias com Robert Witrack, que havia aberto um site dedicado à recuperação e venda de títulos ainda disponíveis em fita magnética, eu comentei sobre a ausência de Monster, ele achou a fita e reeditou o conteúdo, depois disponível para download.

Da discografia de Jimmy Smith eu ainda citaria como meus preferidos os antológicos The Cat, com Lalo Schifrin, e Further Adventures Of Jimmy And Wes, com Wes Montgomery, ambos imperdíveis.

Para o fã de Jazz não se pode falar em Hammond sem lembrar de Jimmy Smith, porém vários grandes músicos tocando o B3 apareceram e estão aí até hoje, nos brindando com gravações exemplares. Hoje em dia, com bons equipamentos para reprodução dessas gravações o prazer de ouvir música ainda é muito maior!

O Hammond extrapolou o Jazz indo para o Rock-and-roll tradicional e para o Rock progressivo dos grupos ingleses e alemães, durante a década de 1970.

Depois da morte de Laurens Hammond a fábrica fechou, mas tempos depois foi comprada pela japonesa Suzuki, que relançou modelos cópia dos Hammond com eletrônica avançada. A empresa tem representante no Brasil e na Europa, para quem estiver interessado. Os modelos novos são bem mais compactos, mas o som é praticamente o mesmo!  Outrolado_

 

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Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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0 resposta

  1. Fascinante a história do Hammond e as explicações altamente elucidativas.
    Eu também associo imediatamente o Jimmy Smith ao órgão no jazz.
    As gravações citadas eu ouço com frequência e são realmente inesquecíveis.

  2. Fascinante a história do Hammond e as explicações altamente elucidativas.
    Eu também associo imediatamente o Jimmy Smith ao órgão no jazz.
    As gravações citadas eu ouço com frequência e são realmente inesquecíveis.

  3. Olá Paulo. Essa matéria soa muito bem para os ouvidos hein ? Esses instrumentos tem uma melodia e sons fantásticos. As vezes vejo no Youtube videos com esses instrumentos que parecer ser de museu… Mas a sua “s o n o r i d a d e” são de deixar muitos instrumentos eletrônicos e computadorizados modernos, no chinelo, visto que estes criam sons através da manipulação direta de correntes elétricas (sintetizadores analógicos), leitura de dados contidos numa memória (sintetizadores digitais), ou manipulação matemática de valores discretos com o uso de tecnologia digital incluindo computadores (modulação física) ou por uma combinação de vários métodos com algoritmos, para reproduzir todos os timbres e nuances desses antigos teclados. Cito aqui 3 grandes artistas de um passado não muito distante, que também fizeram verdadeiros malabarismos com suas máquinas (ou instrumentos como queiram), Rick Wakeman, Jean Michel Jarre, Giorgio Moroder e tantos outros. Ou seja, os teclados são o fascínio de muitos organistas musicistas, ontem, hoje e sempre ! Abraço

      1. Obrigado, meu editor,

        Eu sei que vocêd é roqueiro, já mostrou isso inclusive, imaginei que iria gostar da ideia, mas deixei de citar aqueles que tocaram rock embora tenha um monte de gravações deste tipo! Não foi falha da minha parte, acredite, é que o artigo iria ficar muito longo, e eu então decidi tocar (sem trocadilho, mas literalmente) a parte que me toca.

    1. Eu estudei em um colégio Marista que tinha um Hammond na capela. Um dia nós subimos lá com um professor (que depois se tornou meu amigo) e ele tocou do clássico ao popular. O som do Hammond ouvido bem de perto era eletrizante, e me ajudou a entender muito da música que eu ouvia desde os meus 13 anos de idade!

  4. Olá Paulo. Essa matéria soa muito bem para os ouvidos hein ? Esses instrumentos tem uma melodia e sons fantásticos. As vezes vejo no Youtube videos com esses instrumentos que parecer ser de museu… Mas a sua “s o n o r i d a d e” são de deixar muitos instrumentos eletrônicos e computadorizados modernos, no chinelo, visto que estes criam sons através da manipulação direta de correntes elétricas (sintetizadores analógicos), leitura de dados contidos numa memória (sintetizadores digitais), ou manipulação matemática de valores discretos com o uso de tecnologia digital incluindo computadores (modulação física) ou por uma combinação de vários métodos com algoritmos, para reproduzir todos os timbres e nuances desses antigos teclados. Cito aqui 3 grandes artistas de um passado não muito distante, que também fizeram verdadeiros malabarismos com suas máquinas (ou instrumentos como queiram), Rick Wakeman, Jean Michel Jarre, Giorgio Moroder e tantos outros. Ou seja, os teclados são o fascínio de muitos organistas musicistas, ontem, hoje e sempre ! Abraço

      1. Obrigado, meu editor,

        Eu sei que vocêd é roqueiro, já mostrou isso inclusive, imaginei que iria gostar da ideia, mas deixei de citar aqueles que tocaram rock embora tenha um monte de gravações deste tipo! Não foi falha da minha parte, acredite, é que o artigo iria ficar muito longo, e eu então decidi tocar (sem trocadilho, mas literalmente) a parte que me toca.

    1. Eu estudei em um colégio Marista que tinha um Hammond na capela. Um dia nós subimos lá com um professor (que depois se tornou meu amigo) e ele tocou do clássico ao popular. O som do Hammond ouvido bem de perto era eletrizante, e me ajudou a entender muito da música que eu ouvia desde os meus 13 anos de idade!

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