Revisionismo histórico e planejamento

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E o que o planejamento feito no passado planejou para nós que estamos aqui hoje? As cidades sofrem e não conseguimos resolver problemas crônicos.

 

Bem que o meu antigo professor de História do Colégio São José recomendava aos seus alunos reciclar conhecimentos históricos e questionar se a história se repete ou não.

A maioria de nós alunos talvez tenha praticado este revisionismo poucas vezes na vida, por estar ocupada com a profissão, família, e/ou afazeres de outra natureza. Mas, sempre se chega um ponto na vida, onde o assunto volta à baila.

A agitação recente na mídia, frente ao pronunciamento do agora ex-secretário de Cultura do atual governo Roberto Alvim, ao citar literalmente Joseph Goebbels no seu derradeiro discurso, foi imediata. Aparentemente, Alvim havia coletado um formidável exército de antagonistas e inimigos, e mesmo que não o tivesse feito, perseguir alguém neste país é como andar de bicicleta ou patinete na rua, quem faz continua fazendo como “hábito cultural”, e sem sentir remorso.

No ano passado, 74 anos haviam decorrido do fim da segunda guerra mundial, evento este fartamente documentado pelo cinema e pelos documentaristas da época, sem falar que o governo nazista tinha uma certa obsessão pelo cinema popular, de modo que cinegrafistas do exército alemão cansaram de fazer tomadas de cenas do Führer, que se somaram ao trabalho da cineasta Leni Rienfenstahl, cujo filme O Triunfo da Vontade (visível a quem ainda quiser ver), foi premiado inclusive pela forma como tinha sido realizado.

Além disso, a mulher de Hitler gostava de carregar consigo uma câmera, fez diversas tomadas dos entourages que frequentavam o seu ambiente mais íntimo.

A despeito desta imensa documentação, volta e meia a gente assiste a um caminhão de novos intérpretes, alguns dos quais não se dão conta nem desconfiam de que é preciso viver um determinado ambiente para se ter uma noção precisa do que aconteceu. Sem isso, o estudo da História se torna interpretativo ou especulativo!

O ex-secretário Alvim vinha se queixando na mídia de ser chamado pelos seus pares de “fascista”, mas deu mole quando citou Goebbels, abrindo as porteiras para os seus críticos, que jamais iriam perder a oportunidade de crucifica-lo.

O termo “fascitóide” me lembra dos tempos da faculdade, quando os participantes do então movimento estudantil contra a ditadura se referiam a alguém com características de personalidade ditatorial.

Agora, historiadores de plantão lembram que “fascismo” foi um movimento político italiano da década de 1920, amparado no símbolo do fasces, um feixe de varas atadas a um machado, símbolo do antigo império romano. Mussolini usou o símbolo para tentar unificar cidadãos que se opunham ao estado italiano.

Curiosamente, ambos Hitler e Mussolini tinham aspectos de personalidade semelhantes, e no final, ambos tiveram mortes trágicas. Ambos massacraram a oposição partidária, impuseram ordem na base do terror, combateram comunistas e eram radicalmente antissemitas.

A ideia de formação de “impérios” é anciã em território europeu, e a colonização resultante, incluindo principalmente aquela realizada em outros países fora do continente, acabou por se voltar contra os colonizadores.

De volta para o futuro

Atualmente, o que mais me impressiona é que, depois de 74 anos, os vários aspectos geopolíticos e sociais da segunda guerra continuam devastando as cabeças pensantes em todos os países. Em alguns casos, com brilhantismo, e em outros com equívocos derivados da falta de cultura.

No Brasil, o fim da ditadura foi substituído por um patrulhamento ideológico inacreditável. O que prova para mim, inequivocamente, que ainda estamos muito, mas muito longe, de reconhecer o direito das pessoas em ter opinião própria, ou seja, na prática, ausência total de democracia!

A ambição obsessiva pela manutenção do poder levou esses anos todos Lula e seus correligionários a ficarem completamente cegos ao que estava se passando ao redor. A clássica síndrome do “salvador da pátria” os deixou sem acreditar que poderia haver vozes discordantes do regime por eles imposto durante mais de 15 anos.

Políticos, seja lá de que cor política for, parecem não entender que o papel do estado é fazer força para a correta manutenção das instituições. Se o fizessem, coisas básicas como educação, saúde e segurança, estariam em uma situação bem melhor do que estão hoje!

É no mínimo curioso que a segunda guerra mundial tenha sido alvo de tantas interpretações sobre o poder político, mas nunca ninguém se deu ao trabalho de analisar como o continente europeu se transformou de um território devastado pela guerra, em um ambiente de progresso e melhoria do bem estar social, com uma exceção ou outra.

A resposta para este questionamento é óbvia: chama-se Planejamento! Basta observar a própria Alemanha, que começou a antecipar a recuperação de recursos básicos ao longo do tempo, ou seja, fizeram um esforço para garantir que a infraestrutura necessária não iria faltar. Isto foi feito na Alemanha ocidental, enquanto que na parte oriental continuou tudo na mesma. O resultado foi que quando o muro de Berlim caiu, o contraste se tornou visível, um lado rico e progressista e o outro na miséria.

Ministério parece que planejou mal

O Brasil da década de 1960 criou um Ministério do Planejamento, fechado com a revolução de 1964, mas depois recuperado pelos militares, cujo ministro foi inicialmente Roberto Campos, apelidado pelos estudantes como “Bob Fields”, devido a uma alegada inclinação e subserviência dele aos políticos norte-americanos.

Supostamente, este ministério deveria ter como objetivo fundamental a viabilização dos planos futuros de governo, segundo estabelecido. Se tivessem seguido o exemplo europeu do pós-guerra, nós hoje não estaríamos a ver navios, com uma desestruturação constante dos grandes centros e um centro territorial do país sem solução.

As grandes cidades vivem inchadas, povoadas de favelas e bolsões de miséria, com construções irregulares de alto risco, não só para os seus habitantes como para o meio ambiente.

É o descaso, nada mais do que isso, com o futuro (ou seja, com o Planejamento) que traz hoje rios poluídos para as cidades, causa enchentes, e impede o tráfego de fluir.

Planejar não é nenhum mistério. Mas, é preciso estudar seriamente e antecipar cenários onde algo pode dar errado, e então conseguir soluções para contorna-los.

Enquanto isso não acontece, os mesmos políticos continuarão a subir nos mesmos palanques, pedindo apoio do pobre coitado do eleitor, para solucionar esses problemas crônicos de falta de planejamento, que eles nunca atacaram de frente ou arrumaram soluções viáveis!  Outrolado_

. . .

 

 

1964, um documentário propenso a controvérsias

 

O Caso de Richard Jewell

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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0 resposta

  1. Paulo li atentamente toda sua matéria, apesar do tema fugir “muito” do meu campo de conhecimento e profissão, eu teria como simples cidadão que tem o privilegio de ter acesso irrestrito a todo tipo de informação, manifestar uma opinião simplista e descompromissada sobre seu texto. Na minha visão estamos vivemos no Brasil uma balbúrdia governamental, que tem derivações em escala mundial, principalmente em regimes de governos que causam as maiores discrepâncias e injustiças, que é justamente no regime Democrático Presidencialista, pois concentra-se muito poder e decisão em cima de uma única pessoa, e isso até pode ser feito um paralelo sobre a atuação de Adolf Hitler na Alemanha. Na minha modesta visão, um regime de governo que poderia corrigir essas desigualdades se fosse adotado no nosso pais, e que reduziria drasticamente esses desastres na nossa política (e principalmente desencorajando o surgimento de mártires do tipo Lula), seria a adoção parecida a Monarquia Parlamentarista nos mesmos moldes do Reino Unido (Inglaterra). Em que, ou você faz bem feito para todos, ou te derrubam ! Isso implodiria todo esse sistema doente e contaminado do poder no nosso país, mas daí vem a indagação; os nossos governantes querem “dividir o poder” Acredito que já saiba a resposta nobre Mestre Paulo.

    1. Oi, Rogério,

      Isso que você propõe não é nenhum absurdo, mas você dever concordar, espero, que antes de mais nada os políticos precisam ser limpos. Quem imaginaria que o Sergio Cabral, antes com ilibada reputação, estivesse agora condenado a mais de 100 anos de prisão?

      É preciso mais trabalho que política e tráfego de influência. O brasileiro precisaria parar com esta mania do “deixa ficar para ver como é que fica!”.

      Eu tive um colega na universidade que, apesar do constante bom humor, ficava irritado com a falta de compromisso de algumas pessoas. Em uma daquelas reuniões de coordenação ele comenta que “o brasileiro tem hábito de sempre chegar pontualmente atrasado”, arrancando risos dos que estavam lá.

      É isso: falta de compromisso com o fazer. Você assiste agora na mídia a derrocada do Rio Paraíba, e o descaso de anos com o tratamento de esgoto nas cidades e afluentes. Olha que a antiga CEDAG chegou a ser exemplo de água de boa qualidade.

      Os anos passam e ninguém faz nada, o resultado está aí, e quem paga (em todos os sentidos) é o povo!

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