Coronavírus e isolamento obrigatório

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isolamento, coronavirus, quarentena

Segunda crônica sobre o isolamento obrigatório de uma brasileira residente em Barcelona em tempos de coronavírus.

Confinamento: dia 6

Ao contrário do esperado, o tempo passou rápido. Na primeira semana de confinamento obrigatório aqui em Barcelona não senti a Terra parar. Como nos gráficos de evolução do corona, tenho a sensação de que as horas escalam. De 9h, no primeiro stand-up com os colegas, pulo para as 13h, preparo o almoço, respiro, são 17h30, outro stand-up para fechar o dia, continuo um pouco mais, são quase 20h já, comida novamente e pela milionésima vez comento essa loucura toda com alguém.

coronavírus na Espanha
Luvas, por favor.

As horas voam com uma avalanche de notícias, alertas e memes que talvez superem em quantidade a das últimas eleições (em terror, não). Entre tantas emoções, vamos tentando segurar as pontas.

Os clientes estão nervosos, o mercado está nervoso, as pessoas estão nervosas e nós temos que segurar as pontas. Como diz uma mensagem filosófica destes dias, o mundo está doente porque a humanidade está baixa.

Mas estamos bem. Na minha primeira crônica, eu começava o dia 1 do confinamento estupefata com 200 mortos e mais de oito mil casos. Agora, sábado 19h, são 1.350 óbitos e 25 mil casos.

É importante ressaltar que desde o princípio o número de positivos está subestimado — simplesmente tem havido testes insuficientes, tal e como acontece na Itália e como está acontecendo no Brasil. Resumindo: há muito mais gente doente do que parece. E, sim, é grave.

Nesta semana tivemos que habituar-nos a isso de viver confinado. Não é tão ruim quando você mora em uma casa gostosa com o conforto que precisa. A minha é uma casinha gostosa. Um ovo kinder com um gato, uma varanda com plantas e internet ultrarápida. Para completar, o namorado mudou para cá. Ficou bom demais.

No confinamento você se dá conta da importância de obviedades. Por exemplo, que andar 30 minutos ao dia já é suficiente para fazer diferença no seu estado de saúde. Eu vou (quer dizer, ia) ao trabalho andando todos os dias. Vinte e cinco minutos de trajeto, no total chegava nos cinco ou seis mil passos diários, mas realmente nunca via nenhum “benefício”. A bunda continuava caída.

Agora tenho saudade das manhãs descendo a avenida Diagonal para encarar o pelourinho, mas tenho que me contentar com a caminhada de 20 metros até o supermercado uma ou duas vezes por semana. A vontade de me mexer, ainda que seja só subir e descer a escada do prédio, e repetir, está pegando forte.

Como estamos nos abastecendo

coronavirus espanha
Fila para entrar no supermercado: nenhum pio

Também tivemos nosso momento “vou-abastecer-meu-bunker-por-seis-meses-de-uma-só-vez”. Foi na semana passada, antes do decreto de estado de alerta colocar ordem no barraco.

Prateleiras vazias e nenhum rolo de papel higiênico pra contar história (aliás, que obsessão com o papel higiênico, deus do céu!) circularam em vários vídeos. Eu, como sempre, fiz minhas compras normalmente e na terça desta semana tive que repor.

Estava curiosa para saber como estaria o supermercado. Para evitar o maior contato possível com o “mundo lá fora”, fui ao que está aqui do lado de casa. É caro, mas nestes momentos não quero aumentar a janela de oportunidade do vírus. Maluca? Pode ser, mas agora ser um pouco paranóica é normal.

Fui às duas da tarde, hora do almoço. Tinha fila antes de entrar e avisos:

  • Manter pelo menos 1m de distância do humano à frente.
  • Usar máscaras e luvas, se tiver.
  • Vir com mãos lavadas.
  • Não encostar na própria cara.
  • Não comprar mais de seis unidades de cada item.
  • Uma vez dentro, usar as luvas descartáveis oferecidas para pegar frutas e verduras.
  • Priorizar o pagamento com cartão.
  • Se pagar com dinheiro, não entregá-lo na mão do caixa e sim na bandejinha.

Esperei uns 15 minutos até que alguém saísse. Apenas 10 pessoas podiam comprar ao mesmo tempo. Nesse movimento, me dei conta que estamos um pouco robotizados. Ninguém fala, ninguém ri. Ler rótulos, comparar preços, tagarelar no telefone… para quê? Tem que pensar em quem está do lado de fora, esperando na santa paciência, e acelerar. Até o celular parece ter perdido a preferência. Uma vez fora de casa, acho que sentir o exterior ganha a força de um desejo reprimido, mas ao mesmo tempo estamos ensimesmados. É como o cachorro que da janela de trás do carro fica louco com o ventinho na cara, mas não consegue manter o olho aberto.

Ontem, no “sextou-só-que-não”, me estiquei no tapete da sala de frente para a varanda, no quinto andar. Entre alongamentos e saudações ao sol, vi duas adolescentes no terraço de um prédio lá na frente. Precisaria de um binóculo para vê-las em detalhe, mas percebi a delícia do momento. Elas estavam dançando. Sem música, sem turma. Só as duas. Rodopiando e pulando como se estivessem no Primavera Sound. Esse foi o melhor início de fim de semana que eu poderia esperar.

Bom confinamento para você também, dentro de casa e dentro de si mesmo!  Outrolado_

. . .

Coronavírus: notícias de um apocalipse particular

 

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Patu Antunes é brasileira residente em Barcelona, responsável de desenvolvimento de negócio para startups no Sul da Europa. No tempo livre, viaja e escreve para Trip Trip Now (https://triptripnow.com).

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