A execução e a produtividade do trabalho

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A produtividade do trabalho

A contribuição mais importante que a liderança precisa fazer é aumentar a produtividade do trabalho e dos trabalhadores do conhecimento.

 

Imagine essa cena. Um executivo sentado atrás da mesa, com a cadeira reclinada, olhando para o horizonte através da janela e balbuciando palavras que soam quase como uma introspecção. Você se esforça para ouvir e entender o contexto, no intuito de poder ajudar.

“Era a equipe mais inteligente do setor. Deleguei e dei autonomia a eles, todos sabiam o que era para ser feito, pois sabíamos que as recompensas seriam altas e as possíveis consequências também. Reduzi as expectativas três vezes durante o ano.

“O ano chegou e não atingimos as metas. Eles me decepcionaram, não produziram o resultado esperado. Não sei o que fazer e não sei qual é a causa. Agora, desacreditado, terei que arcar com as consequências junto ao conselho. “

O cenário é fictício, mas isso ocorre com mais frequência do que imaginamos. Várias histórias semelhantes a essa são publicadas quase diariamente na mídia especializada e falam de empresas que deveriam ter se saído bem, mas que não conseguiram: AT&T, British Airways, Compaq, Gillete, HP, Kodak, Motorola, Xerox, entre outras gigantes do mercado.

Cabe observar que esse tipo de frustração não escolhe o tamanho e nem faturamento de corporação e empreendimento. Os resultados não atingidos simplesmente ocorrem. Por vezes as estratégias são brilhantes, a equipe é brilhante, a motivação é alta e tudo parece bem, mas o resultado não é bom.  Em tais casos todos sofrem – o board, os acionistas, os funcionários, os parceiros e principalmente os clientes.

Então tá, qual o problema?

O problema seria um ambiente de negócios hostil? Sim, cada dia mais exigente e as mudanças chegam mais rápido que nunca. Mas esse fato por si só não justifica ou explica os fracassos e falhas quase epidêmicos. Apesar disto há empresas que honram suas expectativas e compromissos de mercado e se superam ano após ano. Simplesmente sorte?

A explicação mais frequente não é falta de sorte, mas uma falha na estratégia. Até pode ser, mas geralmente, quando bem analisado, o problema ocorre quando a estratégia não é bem executada. Inclusive a excelência na execução prevê a possibilidade de adequação da estratégia. A necessidade desses ajustes de percurso existe, justamente, devido a um ambiente de negócios hostil e cada dia mais exigente, e pelo fato das mudanças chegarem mais rápido que nunca. Atualmente vivemos essa realidade.

Parafraseando Cortella: não basta pensar que “ainda dá” para seguir na execução de uma estratégia quando os indicadores demonstram queda de desempenho. Manter uma forma de gestão que não “performa” a contento, só por ser uma prática de mercado, não é persistência, pode ser comodismo entre outras coisas. Bem, com isso exposto, se faz necessário observar atentamente e questionar se as estratégias falham exatamente na execução, ou seja, na hora de se traduzir para o dia a dia.

Relação entre execução e resultado

Nenhuma estratégia que valha a pena pode ser planejada sem levar em conta a habilidade da organização em executá-la. A execução é a discussão exaustiva dos “comos” e dos “quês” levando adiante o que foi decidido como estratégico para se atingir o resultado. Sempre considerando que executar é uma forma sistemática de expor a realidade e agir sobre ela. É preciso atentar para o fato que as organizações não lidam bem com a realidade, principalmente no tempo de percepção. Isso é fato, pois os diversos níveis de liderança lidam com a realidade baseando-se em suas astúcias, aptidões, interesses e outros jeitos próprios, sendo um bom exemplo para isso aquela técnica lúdica bem conhecida do “telefone sem fio”. Uma organização somente pode executar com excelência se todos os níveis de lideranças e operações estiverem atentos e envolvidos pessoal e profundamente no negócio.

Será que um time, em qualquer esporte, atingiria bons resultados se o seu treinador delegasse as tarefas de condução do time para seus assistentes? Apenas a liderança adequada pode estabelecer um bom diálogo em uma organização, sendo o conjunto dos discursos e das práticas o cerne do entendimento e da cultura, ou seja, a unidade básica do trabalho. Com isso, percebe-se que o modo como as pessoas se comunicam em uma organização determina o modo como a organização funciona. A forma de comunicação varia, podendo ser formal em demasia, politizada, fragmentada e defensiva; ou franca, baseada na realidade, com questionamentos e debates construtivos, em torno do crescimento comum e em busca de soluções realísticas para todos.

É bom deixar claro que não está sendo sugerido o gerenciamento ao nível de micro detalhes, aliás outro erro comum, pois isto diminui a autoconfiança, restringe as iniciativas e a habilidade de evolução do pensamento próprio e coletivo. As pessoas, aquelas que realmente fazem as coisas, quando lideradas de forma coesiva obtém melhores resultados que o indivíduo, sem desmerecer os valiosos valores individuais. É essa excelência de equilíbrio que se encontra em times campeões de qualquer esporte, assim como nos negócios.

O estoque

Para várias empresas o giro do estoque é particularmente importante, pois o estoque representa a maior parcela de seus ativos líquidos. Quando as vendas ficam abaixo das estimativas as empresas que adotam o sistema tradicional – fabricar para vender – ficam com seus estoques encalhados, sem giro. Sendo importante observar que existe a possibilidade de obsolescência e deterioração destes estoques. Esse risco, se materializado, pode encolher significativamente as margens de lucro até um ponto crítico. Podendo haver outra abordagem de gestão do ativo líquido através do just in time.

Uma coisa é certa, as empresas que conseguem girar seus estoques mais vezes ampliam o retorno sobre seu capital investido no período. Esse superávit por sua vez possibilita mais recursos a serem reinvestidos no negócio, seja em novas técnicas, qualidade, redução de custo, etc. Com isso, os clientes podem usufruir de um produto bem mais atraente, sendo esse um diferencial competitivo. Esse raciocínio se aplica para quem fabrica, desde computadores até comida congelada.

Pois bem, relaxe e assista o vídeo a seguir. Aproveite para ver como a robótica, além de ser uma disciplina curricular, também serve como instrumento para o aprimoramento de pessoas e seus estoques de expertises. Estoques de expertises? Muitos podem pensar que para certos setores isso não se aplica. É preciso lembrar que sempre existe a possibilidade de análise de viabilidade e perspectivas de aprimoramentos das capacidades e recursos no processo de execução. Lembrando que a sinergia em torno da inovação sempre pode gerar bons resultados e também aumentar a lucratividade. Observe.

 

 

Segundo Drucker, o papel da liderança no século XXI é ser o facilitador e substituir músculos por pensamentos, folclore e superstição por conhecimento, e força por cooperação.

 

A necessidade do raciocínio disruptivo

Pois bem, com o exposto, cabe considerar que existe um outro estoque, intangível, que está centrado em pessoas e é composto de conhecimento, destreza, comprometimento, cultura e vários outros aspectos não mensuráveis. Obviamente que para atender as necessidades de um empreendimento o estoque deverá conter todas as expertises requeridas para entregar não somente um produto, serviço ou solução solicitada, mas também valores – no mínimo dentro das expectativas do cliente. Assim como no estoque físico, essa matéria prima deve possuir boas características para que seu produto seja bem mais atraente que da concorrência, sendo esse seu diferencial competitivo. Desde o século passado Peter Drucker já vem disseminando esse conceito.

Em seu último livro, Management Challenges for 21st Century, Drucker explicita que o trabalhador intelectual é quem detém o conhecimento dos meios de produção e estes meios estão dentro da cabeça dele. Ou seja, faz tempo que a autoridade das decisões operacionais vem de baixo. Com isso, Drucker alega a necessidade de reavaliar a hipótese instituída de que o empregado precisa do emprego mais do que a organização precisa dele.  Claro que o trabalhador intelectual precisa de acesso a uma organização para colocar em prática e executar bem o seu trabalho, a sua especialidade; mas cabe observar que ele detém o estoque do conhecimento consigo.

Reflexões a parte, por analogia, o desafio é fazer esse estoque de intangível girar para ampliar o retorno do capital sobre ele investido no período. Uma das propostas para que isso ocorra, que já vem sendo praticadas habilmente em startups, parte do princípio que o foco do interesse dos trabalhadores intelectuais está no trabalho que ele realiza, pois a execução o remunera mais que somente dinheiro.

Sendo bom, o trabalhador pode conseguir uma remuneração cômoda em qualquer lugar. O interesse primário – a verdadeira realização – se dá no uso de suas capacidades e o que ele pode fazer através dela, bem como, ser reconhecido pelo que faz.

O campeonato

A liderança através da gestão adequada pode ocasionar a valoração do estoque de conhecimento durante o processo de execução da estratégia. Ou seja, se for ofertada à força de trabalho a oportunidade de agregar o seu melhor na cadeia de valores do negócio haverá a oportunidade do aprimoramento da execução. Sendo esse um bom filão a ser explorado, porque quem executa bem consegue se destacar e naturalmente ocorre o reconhecimento das expertises no corpo executor. Essa é uma das formas de incentivo que gera mais dedicação – individual e coletiva – em todo o processo de execução. Isso é o que amplia o giro desse estoque intangível. Consequentemente todos os valores resultantes desse empenho transparecem e irá destacar o negócio, onde está inserido, em seu segmento de mercado, com todas as benesses oriundas de jogar para ganhar o campeonato.

Concluindo

Conforme já citado no artigo anterior, creio que Peter Drucker enquadrou esse desafio muito bem quando disse: “A contribuição mais importante e realmente única da administração no século passado foi o aumento de cinquenta vezes na produtividade do trabalhador manual na fabricação. A contribuição mais importante que a liderança precisa fazer no século XXI é similarmente aumentar a produtividade do trabalho e dos trabalhadores do conhecimento”.  Outrolado_

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Jorge Castro (jorge.castro@globo.com) é professor e coach em Governança de Tecnologia da Informação e Comunicação.

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4 respostas

  1. Ótimo artigo Jorge. Parabéns pela publicação. Mas acho que um dos problemas de fundo na gestão é ausência de líderes. Liderança é inata, e não basta sentar numa cadeira, numa posição de comando, para contar com ela. E nem, muito menos, se valer de um curso que num passe de mágica nos tornaria um líder. Mas se for humildes e reconhecer que não a temos essa liderança inata, poderemos iniciar um longo e penoso período de aprendizado rumo a ela, e quem sabe, nos tornar um líder um dia.

  2. Ótima análise, e embora saibamos no nosso íntimo que “se for ofertada à força de trabalho a oportunidade de agregar o seu melhor na cadeia de valores do negócio haverá a oportunidade do aprimoramento da execução” vemos isso se reproduzindo de forma tímida nos ambientes de trabalho, me referindo a área pública que conheço mais. É verdade que pouco a pouco essa realidade está sendo modificada, considerando que alguns gestores têm se atualizado, mas infelizmente ainda prevalecem pensamentos ultrapassados principalmente entre gestores cuja indicação se baseia em afinidade política e não na competência.

  3. Excelente análise do cenáriio! Mas é tão claro, disso e abrangente que caberia nas mais variadas situações. Em vários momentos do artigo poderia ser aplicado em um exército em batalhas vitoriosas… Muito bom!

  4. Confiança nos colegas, diferenças e habilidades diversas se somam/complementam, disponibilidade para aprender sempre, poder errar (várias tentativas – erros e acertos), professor é incentivador e mediador. Muito interessantes as características da jovem equipe do vídeo selecionado!

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