King Kong, de 1976, na edição brasileira em Blu-Ray

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King Kong de 1976, dirigido por John Guilhermin (O Inferno na Torre), com paisagem paradisíaca e libelo contra a ganância corporativa, foi lançado em Blu-Ray no Brasil, em embalagem com luva e farto material impresso.

 

De tempos em tempos eu faço uma pesquisa de títulos de filmes que me interessam, alguns dos quais cujo lançamento havia passado desapercebido. O filme de John Guilhermin, lançado em 1976, com o título “King Kong”, foi lançado nos cinemas com grande afluxo de público.

Na época, rumores na imprensa de que a produção resolvera construir uma mão de gorila mecânica gigantesca foram espalhados sem pudor na mídia, e talvez isso tenha atraído mais gente para os cinemas.

Existem momentos onde a memória nos trai. Eu tenho quase certeza de que a exibição daquela época foi feita com uma versão em 70 mm, ampliada do negativo Panavision 35 mm, mas não posso hoje confirmar isso. E nem o meu site de referência (in70mm), que apenas cita que nos Estados Unidos não houve este tipo de exibição, mas aparentemente o fora feito no exterior, e neste caso o Brasil teria sido incluído.

Tempos atrás eu andei distribuindo discos com filmes em DVD, e a versão R1 americana de King Kong foi um desses discos que eu nunca mais vi, nem sei mais a quem eu doei. Teria sido importante tê-lo agora, à guisa de comparação, não na imagem, mas na trilha sonora, como irei explicar mais adiante.

O filme

O produtor italiano Dino de Laurentiis conseguiu empreender um projeto, depois de várias trocas de mão entre estúdios, e comissionou o experimentado diretor John Guilhermin, que havia feito o filme-desastre “Inferno na Torre”, este último com apresentação tanto em 35 quanto em 70 mm, a partir do negativo em 35 mm Panavision.

Bem, o que importa é que King Kong traça um roteiro diferente do original da década de 1930. O filme enfoca um drama sobre a ganância corporativa, através de um executivo sem nenhum escrúpulo, interpretado por Charles Grodin. Contra ele um professor e cientista com forte inclinação ambientalista entra clandestinamente no navio onde a expedição tenta achar o mistério de uma ilha fora do mapa, e saber o que está dentro dela. A expectativa desta expedição é achar uma enorme reserva de petróleo.

No meio do caminho, uma mulher náufraga é resgatada com a ajuda daquele professor. Jessica Lange, no primor da sua juventude, dá o tom de sensualidade que o roteiro exige, apesar de nunca ter tido experiência como atriz. Jeff Bridges, na época ainda reconhecido como “filho de Lloyd Bridges”, protagoniza o cientista ambientalista, que torce por Kong até o fim do filme.

O roteiro final foi escrito pelo experimentado Lorenzo Semple Jr., que ficou anteriormente conhecido pelo seu trabalho no seriado Batman da década de 1960, feito para a TV.

A tal mão mecânica aparece em várias cenas onde Kong aprisiona e depois acaricia Dwan (Jessica Lange). Nesta última cena há um erotismo proposital, com Kong desnudando parcialmente os seios de Dwan, como se ele Kong tivesse sido tomado de uma curiosidade insaciável por aquela criatura.

No seu todo, King Kong de 1976 é bastante moralista. Dizem que na pré-estreia a plateia não gostou de ter visto Fred Wilson (Charles Grodin) escapar da pisada de Kong. Assim, a cena foi remontada e Wilson morre pisado, antes do filme ser lançado.

Jeff Bridges tem neste filme, na minha opinião, seu melhor momento como ator. E Jessica Lange, sensualíssima, nem parece ter estreado no cinema.

O filme tem 3 atos distintos, o primeiro na exploração e descoberta de Kong, o segundo no resgate de Dwan e a sua captura, e o terceiro no desastre da presença de Kong em solo americano. Se o leitor observar com atenção, verá que o terceiro ato foi quase literalmente copiado na segunda parte de Jurassic Park, de 1997.

O disco novo

Foi em uma dessas pesquisas de títulos do meu interesse que eu tomei conhecimento da pré-venda da nova edição de King Kong em Blu-Ray pelo selo até então por mim desconhecido Obras Primas do Cinema. A pré-compra foi feita imediatamente na loja virtual Colecione Clássicos há algum tempo, mas o filme foi lançado e enviado somente alguns dias atrás. O disco é entregue com luva e material impresso suplementar, ótimo para colecionadores.

Uma das coisas que me chamou a atenção foi a inclusão de duas trilhas em inglês, uma DTS HD MA 2.0 e outra, com o mesmo codec, em 5.1, supostamente mais próxima da trilha na versão de 70 mm.

A trilha 5.1 apresenta, entretanto, uma compressão inexplicável, que eu tenho certeza, embora sem poder agora comprovar, inexistente na antiga versão em DVD. Diálogos são às vezes distorcidos e a trilha sonora embaralhada com os efeitos especiais. A trilha 2.0 consegue ser pior, apresentando um colapso nos canais que mais se assemelha um filme com som mono!

Felizmente, a má qualidade das trilhas ficou compensada pela boa qualidade da imagem. King Kong foi muito bem fotografado e, portanto, a preservação da imagem original é importante para quem gosta do filme.

 

Plano geral, mostrando a beleza do local.

 

 

A mão mecânica em compósito de alta qualidade.

 

A curiosidade sexual de Kong.

 

Muitas cenas, algumas até complexas de realizar, foram montadas com o uso de compósitos, e é interessante observar que a tela azul de fundo praticamente não prejudica a fusão das imagens.

Existe uma beleza paradisíaca no filme de Guilhermin, enfatizada pela tomada em plano geral da natureza da ilha. Mesmo em versão de home vídeo, esta beleza natural pode ser notada, principalmente na sequência da entrada exploratória mostrando praias e morros.

O disco apresenta um documentário exclusivo sobre a produção, no qual o narrador mostra dificuldades em pronunciar nomes como Grodin, Guilhermin e Paramount. Aparentemente, ele não se deu ao trabalho de assistir um “making of”, incluso no próprio disco, onde aqueles nomes são pronunciados em inglês corretamente.

De qualquer forma, eu fiquei por ora satisfeito em recuperar o filme. A versão Paramount americana nem sequer entrou em pré-venda e não há previsão para que isto aconteça. As outras versões, duas só do Canal Studio, andam por aí vendidas a preço de ouro, parecendo estarem fora de catálogo. Neste particular, mesmo com falhas no áudio, a edição brasileira é meritória e foi por mim bem recebida!  Outrolado_

. . .

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Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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0 resposta

  1. Olá Paulo, essa versão de 1976 na minha avaliação é a que reúne o melhor enredo, efeitos e qualidade de imagem. O cinema de uma forma definitiva passou por um marco importante, que imprimiu um novo formato com filmagens em High Definition. De lá pra cá (para nossa felicidade) nada mais foi como era antes, mas também expôs um maior detalhamento e riqueza de imagens, o que (de uma forma não esperada) tornou visíveis várias falhas. Mas como dizem Paulo, foi o custo da evolução. Abraço.

    1. Oi, Rogério, concordo contigo quanto ao filme de 76. E também quanto à exposição de falhas, mas quando se quer resgatar o filme, se é obrigado a aturar isso dentro do possível.

      Por outro lado, na minha opinião o cinema americano vem exagerando nessa coisa de video games e super heróis de revistas em quadrinhos, mas eles não estão sozinhos, porque se você quiser ler uma análise técnica, por exemplo, de uma placa gráfica ou CPU, a retórica é em cima de games na maior parte do tempo, dando a impressão de que é isso que vende. Eu acho estranho, mas enfim, imagino que eles se baseiem em alguma pesquisa de mercado.

      A falta de imaginação na criação de novos projetos vem junto com tudo isso. Disney está explorando temas do passado sem ter mais nada que dizer sob o ponto de vista do cinema. Inventam franquias de personagens, como se fossem sequências de interesse de quem assiste. E fica a pergunta no ar: precisa disso? Trata-se de uma empresa das mais ricas do mundo do entretenimento, com um monte de subsidiárias. O estúdio que a gente conhecia morreu. Agora, se me pedirem para assinar o streaming deles com esta quantidade de filmes que não me interessam, é óbvio que eu irei declinar.

      Desculpe ser chato, mas a idade pesa! Eu sou de uma geração cujo ato de ir ao cinema tinha uma motivação especial. E o espetáculo em si, com abertura de cortinas, luzes com dimmer, etc., tornavam a projeção em algo sacralizante.

      Aí, tira-se tudo isso, e sobra o quê? A gente vai ao cinema, a primeira coisa que aparece na tela é anúncio! Mas, isso eu já tenho em casa. Honestamente, não é um saco? Ah, mas o exibidor precisa disso para ganhar dinheiro e compensar o prejuízo da bilheteria. Se este prejuízo existe algum fator de desinteresse deve existir, concorda?

      O grande público transformou uma tela pequena em tela de cinema, uma evidência fortíssima de que o conteúdo é de pequena ou nenhuma importância. Na teoria, os serviços de streaming iriam se propor em resgatar o cinema sem anúncios, com imagem e som de boa qualidade. Não é o que se vê aí. Os seriços de streaming estão se multiplicando com todos os vícios dos quais a gente quer se afastar. E se é para transformar a tela pequena em uma tela de cinema, eu então me afasto cada vez mais e não vejo um caminho de retorno!

  2. Olá Paulo, essa versão de 1976 na minha avaliação é a que reúne o melhor enredo, efeitos e qualidade de imagem. O cinema de uma forma definitiva passou por um marco importante, que imprimiu um novo formato com filmagens em High Definition. De lá pra cá (para nossa felicidade) nada mais foi como era antes, mas também expôs um maior detalhamento e riqueza de imagens, o que (de uma forma não esperada) tornou visíveis várias falhas. Mas como dizem Paulo, foi o custo da evolução. Abraço.

    1. Oi, Rogério, concordo contigo quanto ao filme de 76. E também quanto à exposição de falhas, mas quando se quer resgatar o filme, se é obrigado a aturar isso dentro do possível.

      Por outro lado, na minha opinião o cinema americano vem exagerando nessa coisa de video games e super heróis de revistas em quadrinhos, mas eles não estão sozinhos, porque se você quiser ler uma análise técnica, por exemplo, de uma placa gráfica ou CPU, a retórica é em cima de games na maior parte do tempo, dando a impressão de que é isso que vende. Eu acho estranho, mas enfim, imagino que eles se baseiem em alguma pesquisa de mercado.

      A falta de imaginação na criação de novos projetos vem junto com tudo isso. Disney está explorando temas do passado sem ter mais nada que dizer sob o ponto de vista do cinema. Inventam franquias de personagens, como se fossem sequências de interesse de quem assiste. E fica a pergunta no ar: precisa disso? Trata-se de uma empresa das mais ricas do mundo do entretenimento, com um monte de subsidiárias. O estúdio que a gente conhecia morreu. Agora, se me pedirem para assinar o streaming deles com esta quantidade de filmes que não me interessam, é óbvio que eu irei declinar.

      Desculpe ser chato, mas a idade pesa! Eu sou de uma geração cujo ato de ir ao cinema tinha uma motivação especial. E o espetáculo em si, com abertura de cortinas, luzes com dimmer, etc., tornavam a projeção em algo sacralizante.

      Aí, tira-se tudo isso, e sobra o quê? A gente vai ao cinema, a primeira coisa que aparece na tela é anúncio! Mas, isso eu já tenho em casa. Honestamente, não é um saco? Ah, mas o exibidor precisa disso para ganhar dinheiro e compensar o prejuízo da bilheteria. Se este prejuízo existe algum fator de desinteresse deve existir, concorda?

      O grande público transformou uma tela pequena em tela de cinema, uma evidência fortíssima de que o conteúdo é de pequena ou nenhuma importância. Na teoria, os serviços de streaming iriam se propor em resgatar o cinema sem anúncios, com imagem e som de boa qualidade. Não é o que se vê aí. Os seriços de streaming estão se multiplicando com todos os vícios dos quais a gente quer se afastar. E se é para transformar a tela pequena em uma tela de cinema, eu então me afasto cada vez mais e não vejo um caminho de retorno!

  3. Bom dia, Paulo.
    Mais um texto gostoso de ler. Kong de 1933 para mim é um marco do cinema.
    Sem a tecnologia digital tudo foi feito na “raça” e, resultou num espetáculo grandioso.
    Abraço.

  4. Bom dia, Paulo.
    Mais um texto gostoso de ler. Kong de 1933 para mim é um marco do cinema.
    Sem a tecnologia digital tudo foi feito na “raça” e, resultou num espetáculo grandioso.
    Abraço.

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