Schmigadoon, um novo musical à moda antiga está nas telas

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O seriado musical Schmigadoon! estreou no streaming do Apple TV+, citando “Brigadoon”, da M-G-M e parodiando o estilo daquele tipo de filme, a moral e os costumes que eles mostravam na tela.

 

Schmigadoon! estreou nesta sexta-feira, 17/07/2021 no Apple TV+, infelizmente com somente dois episódios, os próximos virão nas sextas-feiras seguintes. “Schmigadoon!” é um seriado de TV que imediatamente nos lembra o musical clássico da M-G-M “Brigadoon”, só que, além da paródia ele coloca a posição dos personagens frente a este tipo de espetáculo.

 

 

Os dois episódios disponíveis até o momento em que eu escrevo este texto mostram com clareza o espírito do musical tradicional, mais especificamente os grandes musicais da Metro.

Porém, é quase impossível repetir o que foi feito nas décadas passadas e em particular nos estúdios da M-G-M. Em pleno studio system, os contratados eram controlados com mão de ferro, as produções estritamente vigiadas, e muitos artistas levados à exaustão. Louis B. Mayer, um dos maiores salários de Hollywood, quando contrariado recorria à intimidação. Não se deixava passar um só detalhe nas filmagens se os executivos do estúdio não aprovassem.

A citação à Brigadoon é bastante clara. Para quem não viu o filme mostro abaixo o trailer dessa produção:

 

Não basta ser só um musical

Uma das virtudes notórias dos musicais da M-G-M foi a criação de um departamento ligado a este tipo de produção, onde compositores, arranjadores e músicos se reuniam. Cada artista era trabalhado nas suas funções vocais, porque muitos atores e atrizes nunca tinham sido cantores ou cantoras. E a mesma coisa aconteceu com as rotinas de dança, onde uma parte significativa das grandes estrelas do elenco nunca tinham dançado profissionalmente antes. Um desses casos foi relatado por Debbie Reynolds, em entrevista sobre o filme Cantando na Chuva.

No elenco da M-G-M existiam dançarinos profissionais de alta qualidade. Até Fred Astaire, que beirava já os seus 50 anos, foi retirado da sua aposentadoria para fazer parte do elenco da M-G-M, onde atuou ainda por muitos anos.

Poderia ser possível montar hoje um espetáculo musical completamente à moda antiga, mas pessoalmente eu acho muito difícil. O último “grande musical” que eu assisti no cinema foi “Sweet Charity”, dirigido pelo ex-dançarino da M-G-M Bob Fosse. E assim mesmo, Fosse mudou a montagem e a tornou distante dos antigos musicais onde fez parte.

Até agora, Schmigadoon! faz alusões à estrutura dos musicais tradicionais com o objetivo de confrontar personagens: Josh, protagonizado por Keegan Michael Key, odeia filmes musicais, enquanto sua namorada Melissa, feita pela atriz Cecily Strong, gosta do gênero (ela aparece em uma cena assistindo Cantando na Chuva na TV), e sonha com o ambiente idílico que tanto fez parte dos roteiros dos musicais antigos.

O desgaste inevitável dos musicais

Com o passar do tempo a cultura e os modismos mudam. Não era mais possível mostrar nas telas um ambiente e uma moral que não existiam mais, daí o inevitável desgaste das produções musicais.

A fórmula do antigo musical se desgastou muito lá pelo final da década de 1950, mas a M-G-M ainda ganhou vários prêmios com Gigi, última produção de Arthur Freed. Além disso, na década de 1960 os cinemas lotaram com filmes como Amor Sublime Amor e Noviça Rebelde.

Na exibição de Amor Sublime Amor, um vizinho aqui da rua ficou indignado com o que ele achava que era o excesso de interrupções na estória para apresentar um número musical. Ele se disse particularmente irritado como o segmento de “Cool”, onde os atores dançam em uma garagem após a morte de um dos personagens.

Hollywood importou os musicais da Broadway desde o início, daí a profusão de rotinas de danças e vocais. Vários desses segmentos teatrais eram cortados, de modo a evitar a descontinuidade na narrativa dos filmes. Mas, a julgar pela reação do meu ex-vizinho, nem sempre este objetivo era atingido.

Hoje nós podemos sentar na sala, assistir um musical e, se desejarmos, pular as cenas que consideramos tediosas. Mas, eu sinceramente nunca entendi o rancor do meu ex-vizinho, e talvez porque filmes como Amor Sublime Amor eram cercados de uma apresentação espetacular nos cinemas. Este filme em particular foi exibido no Cinema Madrid, perto da minha casa, que era uma sala grande, com um som estereofônico exemplar. A mixagem nos discos de vídeo com este filme, incluindo a edição em Blu-Ray, nunca chegou aos pés da mixagem que eu ouvi no Madrid. Quando Tony canta “Maria” o som repetido do nome da personagem ecoava no cinema inteiro!

Os filmes musicais, portanto, agradavam a todos aqueles que, como eu, gostavam de música e de áudio.

Mesmo assim, e apesar das diferenças óbvias, o seriado Schmigadoon! é, até agora, muito bem-vindo. Ele nos tira da mesmice, da ultra violência, e dos videogames de super heróis omnipresentes nos seriados e filme atuais.

A cor da imagem é propositalmente saturada, e o seriado está sendo apresentado com todos os recursos modernos: Dolby Atmos e Dolby Vision, ambos de excelente qualidade.

Goste você de musicais ou não, vale a pena assistir Schmigadoon!, pela paródia à moral e aos costumes antigos, e também pelo sonho de viver de novo em um mundo que não existe mais. Outrolado_

 

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Vocais dublados e ocultos de Hollywood aparecem

 

Bob Fosse e Sweet Charity, agora em Blu-Ray

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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