Hedy Lamarr, atriz e inventora

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Hedy Lamarr ficou conhecida como uma glamourosa e sexy artista de cinema, mas o seu lado como inventora e cientista somente foi reconhecido muito depois. Um de seus inventos se tornou a base do Wi-Fi, Bluetooth, GPS e outros meios de comunicação modernos.

 

Símbolo inequívoco da sensualidade feminina, a atriz Hedy Lamarr esteve presente nas telas de cinema desde tenra idade. Hedwig Eva Maria Kiesler, seu nome de nascença, teve desde cedo ambição para as artes, e o seu talento foi descoberto ainda na sua fase de vida na Europa que se transformava rapidamente, para em seguida eclodir na segunda guerra mundial.

Hedy começou a ficar famosa, quando em 1933, um filme tcheco chamado Ekstase a mostrou desnuda e interpretando um orgasmo, algo por demais atrevido para as plateias da época. Mas, uma vez casada com um fabricante de munição simpatizante dos nazistas, sua vida como mulher de ascendência judaica, começou a correr perigo. O marido, controlador e ciumento, tentou queimar todas as cópias daquele filme, mas sem o sucesso que queria.

O destino a fez encontrar com o poderoso magnata do cinema americano Louis B. Mayer, que andava pela Europa procurando artistas mulheres que dessem notoriedade e bilheteria aos filmes da M-G-M. Uma vez na América, o seu nome de nascença foi mudado para Hedy Lamarr, e ficou assim até o resto dos seus dias. Entretanto, apesar de L.B. Mayer insistir em “filmes para a família”, a imagem de Lamarr mais explorada no cinema foi a de uma mulher voluptuosa, com a qual ela, através da sua beleza natural, ganhou fama.

A personalidade que contradiz a fama

Uma das atividades preferidas de Hedy Lamarr fora do cinema foi a de inventora. A atriz se tornou uma cientista nata, apesar de, aparentemente, nunca ter se formado como tal, o que, aliás, não é nenhuma surpresa, porque muita gente adota como hobby assuntos completamente fora das suas profissões de origem.

No entanto, a fama de atriz e o fato de ser mulher, uma combinação que lhe traria pouca credibilidade no meio científico até então, a impediram de ter o reconhecimento das suas invenções. Somente pouco tempo antes da sua morte foi que este reconhecimento veio à tona.

Enquanto isso, a vida de Lamarr foi cercada de percalços. Casou e se divorciou seis vezes, mantinha as suas origens judaicas escondidas até dos filhos, chegou a ser presa quando roubou artigos de uma loja, e prejudicou a sua bela aparência com uma série de cirurgias plásticas. No final, morreu em 2000, quase no ostracismo.

 

Em 2018, a cineasta documentarista Alexandra Dean fez para a PBS um filme com o título “Bombshell: The Hedy Lammar Story”, na tentativa de resgatar a imagem de cientista da atriz.

Antes disso, o Google Doodle já havia chamado a atenção do público para as suas contribuições na área de tecnologia:

 

 

Lamarr conheceu o compositor George Antheil, que tinha também interesse pela ciência, e juntos conceberam um engenhoso algoritmo batizado com o nome de “Frequency Hopping” (Salto de Frequência).

A ideia original era a de impedir a transmissão de sinais de rádio de serem capturadas pelos nazistas, durante o desenrolar da segunda guerra mundial. O sinal de origem mudaria de canal e somente identificado no destino se o receptor soubesse a localização exata do sinal transmitido. Este mesmo princípio é usado até hoje em roteadores e equipamentos similares.

A invenção era aplicada em um equipamento que usaria cerca de 88 saltos de frequência. A patente foi pedida em 1941 e aprovada no ano seguinte. Porém, a marinha americana não se interessou pelo projeto dos dois e não usou esta forma de comunicação.

 

A dispersão de frequência pela mudança de subportadoras foi a base moderna de tecnologias como Wi-Fi, Bluetooth e GPS. Em 1997, a Electronic Frontier Foundation (EFF) lhe concedeu o seu prêmio de maior prestígio, o EFF Pioneer Award, em reconhecimento à sua contribuição para a ciência das telecomunicações. E em 2014, ela foi finalmente introduzida no Hall da Fama dos Inventores.

Existem preconceitos idiotas que ainda perduram

Infelizmente, eu tive na minha experiência de vida, vários momentos onde eu fui testemunha de que a liberdade de pensamento foi castrada de uma série de maneiras. O fato de Hedy Lamarr não ter sido reconhecida como cientista em um dos seus momentos mais inspirados não me surpreende.

Se alguém abraça uma dada profissão esta pessoa não pode ser impedida de exercer outra atividade, seja lá por que motivo for. Um dos exemplos históricos que mais evidenciam a capacidade do ser humano de se envolver e evoluir no assunto que quiser foi Leonardo da Vinci, cujo espectro de invenções o credencia até hoje como um dos maiores gênios da humanidade!

O preconceito contra a disseminação de ideias causa estrago maior quando o personagem vítima deste preconceito é do sexo feminino. Em um episódio do meu fim de vida acadêmica eu supervisionei o trabalho de laboratório de uma médica que desenvolvia uma tese de mestrado. Um dia, ela vem a mim relatando que o marido, que tinha dupla cidadania, havia ameaçado de sair do país, à revelia do trabalho dela, ou seja, a tese, já em franco andamento, iria parar. No final, indignada, ela confrontou o marido e disse a ele que fosse sozinho, mas ele não foi. Na defesa da tese, a cara dele era de poucos amigos!

Todo mundo tem direito de ter liberdade de pensamento, o que em ciência é fundamental. As ditaduras de comportamento e de credos nunca foi só política, ela é fruto da cultura de uma sociedade incapaz de evoluir.

No meio acadêmico eu sempre notei que egos falam mais alto. A presença de membros da academia que se acham donos da verdade, que impõem com arrogância os seus pontos de vistas, e desqualificam a opinião de seus contendores, continua viva até hoje. Mais de uma vez eu disse aos meus orientados de jamais serem incisivos em suas afirmações quando forem escrever uma tese ou publicar qualquer coisa de interesse, usando sempre expressões como “os dados obtidos sugerem que”, “evidenciam que”, e assim por diante. Isso deixaria aqueles que irão ler com a liberdade que lhes cabe de aceitar ou não uma proposta conclusiva a respeito de um determinado conjunto de resultados de trabalho.

A mim me passa a impressão de que Hedy Lamarr tinha plena consciência do status quo do meio social onde ela vivia. Tanto assim que, em seus últimos anos de vida, provavelmente cansada de guerra, ela se tornou uma pessoa reclusa. Não ser reconhecida como cientista ou inventora por si só já bastou para que ela pudesse ter certeza de que a sua condição de mulher “invadindo” uma profissão que não era dela, iria ocasionalmente lhe tirar os créditos das suas invenções e projetos.

Hoje em dia, porém, Lamarr é creditada como “inventora do Wi-Fi, além de “a mulher mais bonita do cinema”, mas nada do que se diga a respeito dela lhe retira créditos em ambos os reconhecimentos simultaneamente. Eu creio que não há necessidade de exageros nesses tipos de afirmação, o que importa de fato é a sua contribuição como pessoa e ser humano, porque esta foi verdadeira e duradoura! Outrolado_

. . . .

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Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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  1. Oi Paulo. Vivendo e aprendendo. Não sabia que era cientista e inventora. Dela só vi “Sansão e Dalila”. Gostaria de rever esse tesouro restaurado.

  2. Oi Paulo. Vivendo e aprendendo. Não sabia que era cientista e inventora. Dela só vi “Sansão e Dalila”. Gostaria de rever esse tesouro restaurado.

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