A TV aberta 3.0, um futuro imprevisível que começa agora

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A TV aberta versão 3.0 está em fase de testes e traz promessas de avanços tecnológicos importantes, como som e imagem, segmentação geográfica e por perfil e maior integração com a internet.

 

Eu espero estar enganado, mas a TV aberta deixou de ter expressão como entretenimento faz muito tempo, porque os serviços de streaming alcançaram nível de qualidade técnica e artística nunca antes sonhada pelo usuário final.

O único entrave é a necessidade de um provimento de banda larga de boa qualidade, o resto sempre se dá um jeito. Se o usuário não tem uma TV do tipo Smart, mas dispõe de uma entrada USB ele pode se valer de um player para streaming a relativo baixo custo.

A nova proposta evolutiva da TV aberta é impulsionada pelo Forum da Sociedade Brasileira de Televisão Digital (Fórum SBDTV), financiada pelo Ministério das Comunicações, e contando com a participação de um corpo técnico de diversas entidades.

O coordenador do Módulo Técnico do Fórum SBDTV é o Luiz Fausto de Souza Brito, profissional com mestrado na área de computação aplicada, e MBA como Executivo em Tecnologia da Informação pela UFRJ. O Luiz Fausto e eu trocamos várias mensagens de e-mail na época em que a TV aberta digital estava em andamento, e ele foi quem me informou o lado técnico da Rede Globo durante a implantação do formato de áudio 5.1 daquele momento.

Quem quiser saber detalhes sobre o trabalho que o Luiz Fausto coordena, basta assistir o vídeo a seguir:

 

 

Essencialmente, o projeto que está sendo montado propõe um avanço em vídeo, áudio e Internet. Com isso, a TV 3.0 corre atrás do prejuízo, tentando no seu trajeto aumentar o campo comercial das emissoras de TV aberta, e propiciar alta tecnologia a quem hoje não tem acesso a este tipo de recurso. Talvez seja esta uma proposta um tanto ou quanto utópica, mas sem dúvida alguma cercada de méritos, em todos os sentidos.

Para entender o que está se passando, e o porquê da TV aberta ser classificada como versão 3.0, deve-se lançar da ilustração anteriormente divulgada sobre o processo evolutivo do broadcasting, que é mostrada abaixo:

 

 

Basicamente, a classificação das versões é feita de acordo com a curva evolutiva das transmissões de televisão pelo ar, chamadas tecnicamente de OTA ou “Over The Air”. As primeiras transmissões, versão 1.0, foram feitas neste país quando a TV Tupi foi inaugurada na década de 1950, no formato analógico do padrão norte-americano, com imagem preto e branco e som monaural.

Com o início das transmissões analógicas a cores, no formato PAL-M, na década de 1970, o formato mudou de tecnologia, introduzindo o sinal adaptado, mas ainda com som monaural. Como pouca coisa mudou, o formato levou a classificação 1.5. Na década de 1980, o som monaural da TV colorida foi modificado para estéreo 2.0 com um segundo canal de áudio (SAP) simultâneo. No Rio de Janeiro, a primeira emissora a transmitir em estéreo foi a Rede Manchete, canal 6, que se sucedeu à Rede Tupi.

Já com a introdução do sinal digital, a mudança foi muito mais radical, e assim a classificação da versão passa para 2.0, formato em uso do ISDB-T, adaptado do padrão japonês ISDB.

O formato 2.0 digital está agora sofrendo modificações para incluir HDR e, acreditem se quiser, som 3D com Dolby Atmos, na versão 2.5. No que tange a HDR não há, que eu saiba, padrão definido, que tanto poderá ser o Advanced HDR da Technicolor quanto o atual HLG-HDR, já em uso em broadcasting na Europa.

 

 

O HDR da Technicolor iria fazer parte dos codecs HDR das televisões LG OLED alguns anos atrás, mas a LG decidiu retirar este tipo de suporte, e abandonou a respectiva atualização. Se o Fórum se decidir por este modelo de HDR a LG terá que voltar atrás, imagino.

Quanto ao som Dolby na versão 2.5, se ele de fato for adotado, será corrigido um erro histórico absurdo quando da implantação do som na TV digital 2.0, que consiste no uso do codec MPEG-5 AAC 2.0/5.1, com a exclusão do som Dolby como um todo. A intenção da introdução do som Dolby permitirá a transmissão de trilhas em Dolby Atmos, coisa que já acontece há anos nos serviços de streaming!

A versão 3.0 da TV aberta entra agora em fase de teste de campo. Uma variedade de modificações está sendo estudada. A nova versão promete fundos e mundos, entre eles a integração com a Internet, dando a quem assiste a opção de assistir o conteúdo do ar, ou seja, o broadcasting normal, ou as demais atrações que exigem a transmissão por streaming. Para conseguir isso, será preciso implementar aplicativos semelhantes àqueles atualmente em uso.

O grande trunfo que se espera na TV 3.0 é a sua integração com a Internet, ainda muito restrita tanto em velocidade de transmissão, quanto em custo e disseminação pelo país.

Espera-se também que os formatos de transmissão não continuem defasados, e uma prova cabal que isto está acontecendo na versão 2.0 é a recente transmissão dos jogos de Tokio, transmitidos em 4K para o mundo todo, sem ser aproveitada no Brasil.

Avaliação crítica

Quem me dera ser engenheiro para ser capaz de entrar a fundo neste assunto, mas como não sou me limito a dar uma opinião como consumidor, que, salvo melhor juízo, é a seguinte:

Eu venho assistindo e lendo críticos da TV aberta, alguns dos quais afirmam que a poderosa Rede Globo estaria com os dias contados. Anos atrás, eu ouvi de uma pessoa ligada à área de marketing que a Globo tem o seu principal mercado no interior de São Paulo, daí a maneira como a programação era construída.

Mas, convenhamos, a televisão brasileira ficou para trás em definitivo quando decidiu insistir com a massificação das novelas, cujos enredos são repetitivos e dopantes, e consequentemente com zero de criatividade. A insistência com a estrutura populista de programas de auditório arcaicos ou com show de celebridades, dirigida a classes de menor poder aquisitivo e cultural, foi, no meu modesto entender, o que, em última análise, levou a TV brasileira ao status quo que ainda perdura!

Não fosse só isso, mas na transmissão aberta aumentaram o número de canais com apelos religiosos e/ou meramente comerciais, tornando o espectador uma vítima da falta de opções.

A entrada dos serviços de streaming causou impacto no mundo todo, e não poderia ser diferente aqui. Embora qualquer um deseje receber conteúdo sem nenhum custo, a verdade é que não existe televisão de graça, porque o espectador ao assistir um programa vendido a um anunciante ele está pagando indiretamente por aquele custo.

O que o streaming fez, e que estrangulou a TV aberta, foi investir em tecnologia, coisa que o pessoal do Fórum procura agora fazer, para tentar desengessar o sistema, com o desenvolvimento previsto para a TV 3.0.

A meu ver, quando a TV digital foi desenvolvida, seus proponentes deram um tiro no pé forçando a adoção de um formato de áudio sem futuro, e limitando a imagem a 1080i. Este último quesito talvez tenha sido menos impactante, porque, na prática, qualquer TV moderna é capaz de renderizar 1080p a partir de 1080i. Mas, no que tange ao áudio, nós hoje poderíamos estar assistindo programas com som 3D, sem nenhum esforço técnico necessário.

Recentemente, eu questionei aqui neste espaço se os 70 anos de televisão no Brasil valeram a pena. Este questionamento ainda perdura. Comercialmente, muita coisa se pode fazer, inclusive com a segmentação territorial proposta na TV 3.0, mas nada disso adianta se as opções de qualidade não existirem. Porque, caso contrário, quem tem recurso financeiro e técnico vai querer continuar assistindo os serviços de streaming.

Transformar a TV 3.0 em um modelo de telefone celular com a ajuda de aplicativos também poderá ser um equívoco, e por enquanto eu entendo que só o tempo dirá se esta modificação irá dar certo. Basta lembrar que o middleware Ginga acabou não dando certo, então é possível que iniciativas similares descambem pelo mesmo caminho!

Em suma, é preciso aguardar para ver onde todo este esforço tecnológico irá chegar. É um fato que estamos para trás, em todos os sentidos. A Internet aqui já poderia ter passado da faixa dos Gigabits, e com preços razoáveis. O país como um todo, com a sua aparentemente eterna economia piramidal e segregacionista, onde ricos ficam ainda mais ricos durante uma pandemia que vem ceifando vidas, o espaço econômico não permite que várias camadas da população possam se beneficiar dos avanços da tecnologia.

Tudo isso encerra uma gigantesca contradição: a eletrônica moderna introduziu os circuitos integrados, processadores e computadores cada vez mais poderosos, no intuito de baratear custos, mas, no entanto, o custo continua alto e inacessível para muita gente. Não deveria ser o oposto? Outrolado_

 

. . . . .

 

 

70 anos de TV no Brasil. Poderia ter sido melhor?

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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