Charlie Parker, o Bird, mestre do Bebop

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Charlie Parker, conhecido pelo apelido de Yardbird ou Bird, foi um músico de Jazz que ajudou a criar o gênero Bebop ou Bop, variação complexa do Jazz tradicional. Inicialmente incompreendido e pouco aceito, o Bebop iria se tornar um standard do Jazz moderno.

 

O Jazz é um daqueles estilos de música que sempre foi recheado de personagens icônicos e de variações de estilo ou forma de tocar. Um deles já foi comentado aqui, Louis Armstrong, que tornou-se o símbolo do que a música representa. Enquanto outros encarnaram mudanças radicais na maneira de tocar.

Um desses últimos, talvez o principal deles, foi o saxofonista Charlie Parker, conhecido pelo seu apelido “Yardbird” (ou Yard Bird, gíria para frango na panela, supostamente comida favorita do músico), depois abreviado para “Bird”.

Apesar de ter contribuído de forma significativa para a evolução do Jazz, Parker teve uma existência cheia de percalços, sem falar nas atribulações da sua personalidade e vícios, que acabaram resultando na sua morte prematura aos 34 anos.

Um dos alegados méritos da musicalidade de Charlie Parker teria sido a sua descoberta da introdução do uso da escala cromática no seu fraseado, 12 notas intercalando semitons, e daí variando para um fraseado diferente daqueles tocados no Jazz.

Parker e outros músicos criaram um estilo de tocar que levou o nome de “Bebop” ou “Bop”. Por causa da sua complexidade, o Bebop não teve aceitação imediata, mas acabou prevalecendo como variação do Jazz Tradicional.

De fato, o Bebop nunca foi de fácil assimilação, até mesmo pelo fã de Jazz. Por coincidência eu comecei a ouvir Bop e Hard Bop (outra evolução na maneira de tocar) bastante cedo.

Porém, na minha experiência com isso, eu tomei conhecimento de alguns fatos insólitos a este respeito: em um deles, o grande saxofonista cubano Paquito D’Rivera contou em uma entrevista que um belo dia o pai, também músico, traz para casa um disco de Bebop, e então Paquito, ainda muito jovem, perguntou o que era aquilo. O pai insistiu que ele ouvisse com atenção, e coincidência ou não, ele se tornou um exímio intérprete de Hard Bop em anos subsequentes.

Um outro lance, esse eu ouvi de um ex-colega professor e ex-amigo, que me contou que a mulher dele gostava muito de Jazz, mas quando ele tocava Bebop ou Hard Bop ela saía correndo da sala…

Com base nesse relato, eu tive uma experiência pessoal significativa: nos meus últimos anos de trabalho de pesquisa, eu convivi com uma colega, a qual um dia eu dei carona, e o carro tocava uma fita cassete com uma gravação de Jazz tradicional. E ela então me pergunta se eu gostava de Jazz, porque ela gostava muito. Mas, tempos depois, nós saímos do hospital para almoçar e eu pergunto a ela se ela gostava de Bebop. E ela me perguntou o que era aquilo. Na época, eu fiquei na dúvida se devia responder com detalhes ou mostrar o que era, com receio de que ela também saísse correndo…

A vida atribulada de Charlie Parker

Conta a lenda que durante a década de 1930 Parker estudava com afinco uma maneira de dominar o seu instrumento (sax alto), mas eventualmente ele se defrontou com músicos que não entenderam essa sua nova maneira de desenvolvimento de fraseado.

Teria sido o baterista Jo Jones, da orquestra de Count Basie, que, durante uma “jam session”, foi quem jogou um prato (címbalo) da bateria em cima do palco, de modo a interromper as improvisações ainda hesitantes de Parker. Este incidente humilhante teria marcado a trajetória de Parker, de tal forma que ele se afastou por um longo tempo e quando ressurgiu ele já havia concretizado as bases do Bebop com sucesso.

A vida pessoal de Parker foi cercada de problemas. Ele teve fama de príapo, ou seja, portador de uma condição clínica chamada de priapismo, que leva o indivíduo masculino a um estado compulsivo de se satisfazer sexualmente de forma constante. Além disso, Parker se tornou viciado em heroína, o que lhe causou distúrbios mentais de diversos tipos, com repercussões na sua vida de casado e nas gravações e shows que ele participava.

Parker sofreu muito pela morte da sua filha Pree, que faleceu com apenas 3 anos de idade. Entre as suas muitas idas e vindas, ele se associara à excêntrica Baronesa Pannonica, patrocinadora de muitos músicos de Jazz. Parker morreu em seu quarto de hotel, vítima de úlcera perfurada e outros fatores. O médico que o atendeu achou tratar-se de um homem com mais de 50 anos de idade, tal o seu estado físico. O exame post mortem constatou uma avançada cirrose hepática. Parker tinha 34 anos.

O filme Bird

Clint Eastwood, ele mesmo músico de Jazz nas horas vagas, faz no filme “Bird” um tributo e um relato da vida complicada de Charlie Parker:

 

A mim me causa espécie nunca ter visto a iniciativa da Warner Brothers em relançar o filme em uma edição de alta definição, até mesmo em mercado norte-americano, apesar de outros filmes de Clint Eastwood terem tido várias reedições em Blu-Ray. Na realidade, a empresa está tão preocupada com o último sucesso de bilheteria, que sequer lançou aqui o filme A Mula, do mesmo diretor.

 

 

É uma pena, porque Bird traz um relato compreensivo da vida de Charlie Parker. O tal incidente com o baterista Jo Jones, com o prato girando no ar e caindo com estardalhaço ao chão, foi usado como uma espécie de leitmotiv das agruras e vida do músico.

A equipe técnica que trabalhou no filme conseguiu extrair os solos de Charlie Parker dos discos que ele gravou, uma proeza e tanto para a época, usando esses solos para a dublagem do ator Forest Whitaker, que interpreta Parker. Os demais músicos são do estúdio que fez a trilha sonora.

Na minha visão, o cineasta pinta um retrato hediondo de Chan Parker, mas ela deu suporte ao filme, vá se entender por quê!

Propositalmente, “Bird” ridiculariza quem ridicularizou Charlie Parker, e isso serve como uma espécie de “vingança” pelos percalços que o músico passou com seus pares.

Charlie Parker foi uma vítima da intolerância. Sua música, incompreendida, acabou se tornando uma novidade que chegou para ficar. Os seus solos foram estudados, e reproduzidos com fidedignidade por grupos como, por exemplo, o Supersax, que gravou o álbum “Supersax Plays Bird”, uma pequena obra prima.

 

 

Charlie Parker tinha uma cabeça além de seu tempo, malgrado os seus problemas de vida. Como sempre acontece em situações como essa, é o sofrimento do artista que no final torna essas pessoas mais capazes de fazer ou inovar arte. O preço a ser pago é alto e somente nós o público é que ganhamos com a arte resultado deste sofrimento. Outrolado_

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Louis Armstrong, o menino de origem humilde que reinventou o Jazz

 

Silêncio no set de filmagens… Clint no filme A Mula

 

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Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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